A aplicação de doses de vacinas de fabricantes diferentes contra a pandemia de Covid-19 ainda é alvo de estudos científicos em todo mundo. No entanto, alguns resultados preliminares indicam que a vacinação cruzada pode ser até mais eficiente. O debate ganhou fôlego na última terça-feira (22), quando a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, revelou ter tomado duas doses de imunizantes distintos.

Atualmente, há mais de 200 vacinas contra o novo coronavírus em produção em todo o mundo. Elas envolvem tecnologias diferentes: as tradicionais, feitas com versões inativadas do vírus, e as inovadoras, produzidas com material genético (DNA ou RNA mensageiro). A combinação de vacinas diferentes (vacinação heteróloga) já deu certo, por exemplo, no combate ao vírus do ebola. Imunizantes distintos estimulariam partes diferentes do sistema imunológico ou o ensinariam a reconhecer partes diferentes de um patógeno.

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No contexto da atual pandemia, alguns países testam combinações de vacinas por necessidade e falta de insumos e também por precaução e segurança. No Brasil, onde a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda o uso da mesma vacina, 481 brasileiros receberam, neste ano, erroneamente uma dose da CoronaVac e outra da vacina de Oxford, segundo o Ministério da Saúde. O órgão regulador alega que não há evidências de que a vacinação de doses de fabricantes diferentes produza imunização diferenciada ou mesmo qualquer efeito contra o novo coronavírus e não a recomenda.

Porém, duas pesquisas realizada na Espanha e no Reino Unido, indicam, preliminarmente, que misturar vacinas pode proporcionar níveis mais altos de anticorpos. Ambos os estudos foram realizados com a mistura de doses entre a Pfizer e AstraZeneca e constataram que a vacinação cruzada é altamente imunológica, apesar de apresentarem efeitos colaterais mais severos após a aplicação.

Assim, vários países europeus já aconselham os mais jovens a cruzar vacinação, sobretudo com o uso da vacina da Pfizer, feita a partir de RNA mensageiro. Espanha, Alemanha, França, Suécia, Canadá, Noruega e Dinamarca já admitem a prática. Já a Food and Drug Administration, órgão regulador nos Estados Unidos, é mais conservador e admite uma segunda dose diferente da primeira em “situações excepcionais”.