20/09/2021 - 12:57
De milagrosas a investimentos de alto risco. Credores espoliados e funcionários descrevem as táticas desesperadas da gigante imobiliária chinesa Evergrande para escapar da falência.
Nas últimas décadas, o mastodonte se tornou uma das faces mais visíveis do frenesi imobiliário da China, à medida que milhões de famílias puderam adquirir a propriedade de suas casas.
Hoje, o grupo está desmoronando com uma dívida de cerca de US$ 304 bilhões, o equivalente ao PIB da Romênia, por exemplo.
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Fornecedores não pagos e proprietários enganados protestaram na semana passada em frente à sede do grupo, em Shenzhen (sul). Cenas incomuns em um país onde os protestos dificilmente são tolerados.
Este grupo tentacular tem mais de 1,4 milhão de casas ainda em construção, que não pode mais terminar, ou entregar aos seus proprietários.
Encurralado, oferece aos seus credores pagamentos como terrenos, ou vagas de estacionamento. Ofertas geralmente rejeitadas pelas partes interessadas.
“O que eu quero é meu dinheiro!”, reclamou um investidor chamado Feng à AFP. “Não vou nem olhar para esta oferta”, acrescentou.
– “Perdemos tudo” –
Diante da ameaça iminente de falência, Evergrande também propôs nos últimos meses a seus funcionários vender – mas também comprar para si – investimentos muito atraentes, mas de alto risco, segundo vários deles ouvidos pela AFP.
Um deles, de sobrenome Huang, afirma ter juntado 1,5 milhão de yuans (cerca de 200 mil euros) com a ajuda de sua família para comprar os produtos propostos.
As taxas de juros oferecem um lucro entre 7% e 9%, de acordo com funcionários e folhetos consultados pela AFP.
“Antes do vencimento, eles nos pediram para colocar mais dinheiro, em vez de nos reembolsar”, revela. “Agora, já perdemos tudo”, acrescenta.
A AFP contatou Evergrande para comentar esta informação, mas o grupo se recusou a dar declarações.
Uma consultora financeira do setor de gestão de fortunas da Evergrande, que se recusou a se identificar por medo de retaliação, confessou que era difícil resistir às propostas da administração.
“Eles nos incentivaram intensamente a melhorar nosso desempenho, prometendo-nos bônus”, destaca.
Como resultado, “muitos clientes depositaram todo seu dinheiro e suas pensões na Evergrande, porque confiavam em Xu Jiayin”, explica a funcionária.
Fundador do grupo, Jiayin se tornou, em poucos anos, um dos maiores bilionários do país.
No início deste mês, porém, quando o reembolso ficou difícil, tornou-se impossível entrar em contato com a administração, acrescenta ela.
No sábado (18), a Evergrande anunciou que aplicaria “sanções severas” a seis funcionários da empresa que, supostamente, teriam conseguido o reembolso de seus investimentos antes da data de vencimento.
No auge da gigantesca bolha imobiliária, a Evergrande embarcou em projetos faraônicos.
Em Suzhou, uma cidade próxima a Xangai, famosa por seus canais e jardins imperiais, o grupo teria construiria um enorme complexo residencial, com escolas, um parque de lazer e um bairro comercial de estilo europeu.
Esta inacabada “cidade turística e cultural da Evergrande” foi invadida por compradores revoltados que duvidam de que algum dia recuperem seus investimentos.
Um proprietário observa que muitos compradores foram persuadidos a dar poderes aos funcionários da Evergrande para que assinassem documentos em seu nome.
Posteriormente, o cronograma de entrega dos apartamentos foi mudando, com o surgimento de novas condições financeiras nos contratos, e foi necessário começar a arcar com as despesas comuns do condomínio antes mesmo da entrega das chaves.
“Meu queixo caiu”, confessa.
A imagem do grupo imobiliário permanece intacta em Cantão (sul), porém, onde Evergrande concluiu a construção de seu primeiro complexo residencial em 1996.
“Originalmente, seu objetivo era ajudar famílias comuns como a nossa a pagar por seu apartamento”, disse Liu, uma professora aposentada.
“Evergrande não é uma empresa terrível. Eles cuidaram muito de nós”, acrescentou.