O transplante de um coração de porco para um ser humano que foi anunciado nos Estados Unidos esta semana representa um avanço impressionante. Mas especialistas na França e no Reino Unido alertam que ainda é preciso comprovar sua eficácia a longo prazo.

“Em si já é uma façanha”, resumiu nesta quarta-feira(12) o anestesista francês François Kerbaul, diretor de transplantes da francesa Agence de la Biomédecine.

A Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, anunciou na segunda-feira que uma equipe de cirurgiões conseguiu transplantar o coração de um porco em um paciente humano.

A operação foi realizada na sexta-feira e mostrou pela primeira vez que o coração de um animal pode continuar funcionando dentro de um humano sem rejeição imediata.

Outros xenotransplantes (de uma espécie para outra) foram realizados no passado, mas os pacientes morreram imediatamente.

A diferença no caso da universidade americana é que o porco doador era um animal geneticamente modificado para eliminar proteínas que poderiam ter causado a rejeição imediata do paciente receptor.

“É um primeiro estágio, mas provavelmente as próximas semanas ou os próximos meses serão cruciais para nos dar perspectivas”, disse Kerbaul.

É esse intervalo que nos permitirá realmente saber até que ponto o órgão transplantado é aceito pelo corpo do paciente, um homem de 57 anos que por razões médicas não pôde receber um coração humano.

O coração do porco foi escolhido por ter semelhanças com o dos humanos. Mas pode funcionar no organismo de um ser bípede, cuja mobilidade é muito superior à do porco de quatro patas?

“O que vai contar será o médio e longo prazo”, resumiu o cirurgião cardíaco britânico Francis Wells em declarações ao Science Media Center.

“Neste momento não há elementos a este respeito e vamos acompanhar de perto a evolução deste corajoso paciente”, acrescentou.

“Talvez fosse um pouco cedo para anunciar algo assim para o mundo”, disse ele.