25/05/2022 - 9:30
São Paulo, 25 – De dois anos para cá, primeiro por causa da pandemia de covid-19 e, mais recentemente, com a disparada de preços globais de alimentos – reflexo da guerra na Ucrânia -, pelo menos 35 países adotaram algum limite para a exportação de commodities agropecuárias, disse o economista sênior no Policy Center for the New South, Otaviano Canuto. Ele participou, na noite desta terça-feira (24), de live da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com o tema “Preços de alimentos no mundo, desafios do futuro”.
Segundo ele, o que está ocorrendo agora com os preços de alimentos encontra um “forte paralelo” com a crise global de cotações desses produtos na primeira década dos anos 2000. Ele citou a Índia como exemplo recente de restrição de exportação de alimentos. O país, que costuma ser o quarto exportador mundial de trigo, anunciou, no sábado retrasado, veto às vendas externas do cereal. “Isso afetou imediatamente os preços do trigo, que subiram 6% logo que os mercados abriram na segunda-feira seguinte.” Canuto lembrou, ainda, da decisão da Indonésia, que contribui com 65% das exportações globais de óleo de palma, de também restringir suas exportações da commodity. “Essa decisão também fez explodirem os preços de óleos vegetais.”
Como agravante neste cenário e indicador de que os preços de alimentos devem subir mais ainda é a quebra de safra de trigo na China, “que está entre as piores de todos os tempos”, disse Canuto, “e as altas temperaturas na Índia, que atingiram 45 graus entre março e abril e atingiram em cheio o cinturão de trigo”. O economista lembrou que, até as restrições impostas pelos indianos, a safra de trigo da Índia chegou a compensar alguns “buracos” deixados pela Ucrânia, que também é grande exportador, além do Canadá, que também sofreu com o clima em suas lavouras.
Outro importante alimento que está sendo afetado por causa do conflito entre Rússia e Ucrânia é o óleo de girassol, cujo fornecimento global depende, em dois terços, desses dois países. “O conflito na Ucrânia danificou portos e a estrutura agrícola do país e isso limitará suas exportações de alimentos por um bom tempo”, disse Canuto. “As exportações ucranianas caíram de 5 milhões de toneladas por mês para 500 mil toneladas por mês; isso sem falar no trigo estocado nos portos da Ucrânia e que a Rússia não deixa sair.”