30/05/2022 - 9:25
É preciso uma urgência e uma correção acentuada no mais promissor universo da tecnologia, o das startups. Porque nele a gente reproduziu fielmente, e numa velocidade acelerada, as mesmas imperfeições do restante da sociedade, gerando desigualdades profundas. E não apenas na escolha dos segmentos mais atraentes para o capital – edtechs, healthtechs e fintechs –, mas em especial na configuração de quem está por trás delas. Um homem branco heterossexual.
Num estudo feito pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups) e a consultoria Deloitte, podemos ver nos detalhes a concentração. A entidade tem 13,7 mil startups cadastradas em sua base de dados, sendo 7 mil no papel de associadas. Para a realização da quarta edição do Mapeamento Brasileiro de Startups foram ouvidas 2,5 mil delas, em busca de respostas para cinco eixos: a) perfil das pessoas fundadoras, b) perfil das startups, c) investimentos em startups, d) diversidade no time de colaboradores e, por fim, e) empregabilidade nas startups.
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Para a associação, uma startup é “uma empresa que nasce a partir de um modelo de negócio ágil e enxuto, capaz de gerar valor para seu cliente resolvendo um problema real, do mundo real, oferecendo uma solução escalável para o mercado, e, para isso, usa a tecnologia como ferramenta central”.
A primeira concentração é geográfica. As Regiões Sul (14% da população do Brasil tem 26,5% das startups) e Sudeste (40% da população e 51,1% das startups) estão muito à frente das demais. Isso significa que elas têm pouco mais de 50% dos brasileiros, mas mais de 76% das startups.
A desigualdade se torna mais grave, no entanto, quanto traçamos os perfis por gênero e cor. Entre os fundadores desse perfil de empresa 69% são brancos (43% na população brasileira), 17,8% são pardos (47% na população brasileira) e 7,2%, pretos (9,4% na população brasileira). Na divisão por gênero, 74% são homens e 17% companhias fundadas por mulheres – os demais foram startups criadas por mais de um fundador de ambos os gêneros, pessoas trans ou que se declaram não binários. O Mapeamento mostra ainda que apesar de 98% das startups declararem apoiar a diversidade, apenas 60% delas têm processo de seleção voltados para a diversidade.
O perfil construído nesse trabalho da ABStartups deve ser de consumo obrigatório, e mostra que também no universo de ponta da tecnologia & inovação nada pode ser discutido ou levado adiante sem que o componente ético entre na equação. Ele é o que moverá as forças para corrigir as distorções. E forçar o capital a pensar também aqui que o dinheiro concentrado num só perfil de público tende a manter a sociedade desigual.