*Gilson Magalhães

Há centenas de anos, ninguém sabia o que poderia encontrar ao cruzar o oceano, e muito menos era capaz de prever o impacto que qualquer descoberta além mar traria. Ao longo da história, essa cena foi se repetindo em diversos momentos: quase ninguém imaginava o que esperar das revoluções industriais, do advento da internet, da chegada da robótica ou da telefonia móvel. Nem mesmo os criadores dessas inovações poderiam sonhar que elas chegariam tão longe e seriam, em muitos casos, a base para seguirmos avançando, na velocidade da luz e de maneira contínua.

Esse mesmo fenômeno já  vivenciado por tantas soluções disruptivas através dos anos é o mesmo pelo qual agora passa o 5G, uma nova geração de conexão mobile que promete transformar a sociedade que conhecemos hoje. Recém implementada em cinco cidades brasileiras, a tecnologia ainda engatinha em todo seu potencial, tendo muito mais a oferecer do que uma menor latência ou maior largura de banda, para downloads mais rápidos ou ligações de vídeo e streamings mais estáveis. O 5G pode – e vai – revolucionar as telecomunicações, criar novas oportunidades em diferentes mercados e acelerar ainda mais a transformação digital. Mais do que isso, a nova tecnologia vai mudar a forma como nos relacionamos e enxergamos o mundo.

Mergulho no desconhecido

Embora o 5G já esteja no mercado há algum tempo, a falta de compreensão sobre sua real amplitude ainda causa desconfiança. Para muitos, ele ainda representa somente um “G a mais”, um pensamento natural em relação a uma tecnologia que ainda está em fase de desenvolvimento, no início de sua implementação. Para outros, as expectativas depositadas sobre os avanços que essa “simples” mudança pode trazer são enormes. Em seu relatório sobre os impactos que o 5G deve gerar até 2030, a consultoria britânica Omdia descreve o 5G como “o próximo salto quântico”, destacando que a internet de quinta geração será a força que vai guiar os negócios e promover uma revolução social.

Não por menos, a PwC prevê que a nova tecnologia irá acrescentar quase US$ 1,4 trilhão à economia mundial até o final desta década. Contudo, esse potencial só será alcançado a partir de seu amadurecimento. Um processo que vai exigir uma série de adaptações e transformações culturais em diversos atores do mercado e na sociedade como um todo. O primeiro desafio começa já com a difusão do 5G ao redor do globo. A GSMA, entidade global que representa operadoras de telefonia móvel, estima que 2 bilhões de pessoas devem estar conectadas à internet de quinta geração até 2025. No ano que devemos bater a marca dos 8 bilhões de pessoas em todo o mundo, fica claro o abismo do alcance da tecnologia.

Outros obstáculos envolvem a sinergia de investimentos públicos e privados para fomentar a utilização e a expansão dessa tecnologia, além do esforço conjunto para desmistificar alguns pontos de desconfiança que ainda pairam sobre a implementação e os impactos do 5G. Para ser efetivo, o foco das ações precisa justamente mostrar o poder de desenvolvimento que a internet de ponta traz. Basta pensar nos avanços inimagináveis que tivemos do 3G para o 4G, quando ninguém pensava que enfrentar uma pandemia e se tornar tão dependente de chamadas de vídeo que, graças a uma “pequena” evolução podem ser feitas de qualquer lugar e a qualquer hora.

Tesouros escondidos

Com muitos e importantes atributos, o 5G, no entanto, não será capaz de avançar de maneira tão rápida sozinho, como mostra um estudo da Accenture. Na jornada rumo ao desconhecido, soluções open source podem impulsionar sua aplicação em diferentes projetos. Ponto para conectar a internet de quinta geração com outras tecnologias emergentes (nuvem, inteligência artificial, internet das coisas e edge computing, por exemplo), o código aberto se torna um grande habilitador do 5G como fonte poderosa e inesgotável de inovação e oportunidades.

Cidades e fábricas inteligentes, cirurgias e tratamentos a distância, monitoramentos preditivos e chamadas holográficas em 3D começam a se tornar realidade. O que vai vir daqui em diante é difícil prever. Mas é preciso estar preparado, pronto para acompanhar uma nova revolução, que vai transformar nossas crenças, hábitos e o mundo como conhecemos hoje. O 5G chega para habilitar novas experiências e oportunidades, e não apenas em termos de negócios, mas para um futuro sustentável para o planeta. Basta darmos o primeiro passo, nos atrevendo a entrar nesse barco e navegar em alta velocidade, com uma direção certeira para romper a linha do horizonte.

*Gilson Magalhães é presidente da Red Hat Brasil