Após dois pregões seguidos de alta e valorização de 1,47% na semana passada, o dólar à vista recuou na sessão desta segunda-feira, 22, no mercado doméstico de câmbio. Operadores atribuíram a apreciação do real à entrada de fluxo, em especial comercial, e a movimento típico de ajuste de posições e realização de lucros no segmento futuro.

Tirando uma alta pontual na abertura, quando superou o teto de R$ 5,00 e registrou máxima a R$ 5,0058, a moeda trabalhou com sinal negativo no restante do dia. A mínima, a R$ 4,9537, ocorreu à tarde, em sintonia com o exterior. No fim do pregão, o dólar era cotado a R$ 4,9707, em baixa de 0,50%, voltando a apresentar queda em maio (-0,33%) No ano, a divisa acumula desvalorização de 5,86%.

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“Na semana passada, o fluxo foi ruim e parece que houve entrada de recursos hoje ajudando a pôr o dólar para baixo. A perspectiva de aprovação do arcabouço fiscal nesta semana já está incorporada aos preços, mas acaba ajudando um pouco”, afirma o operador de câmbio Hideaki Iha, da Fair Corretora, em referência à possibilidade de que o plenário da Câmara dos Deputados vote o novo marco fiscal na quarta-feira, 24.

À tarde, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse que a autorização no texto do relatório do arcabouço, do deputado Cláudio Cajado (PP-BA), para crescimento real de 2,5% dos gastos do governo em 2024 representa uma diferença de R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões, bem inferior aos R$ 80 bilhões estimados por analistas na semana passada.

Referência do comportamento da moeda americana frente a divisas fortes, o índice DXY trabalhou a maior parte do dia em ligeira alta, na linha dos 103,200 pontos. O mercado operou à espera de reunião entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, marcada para as 18h30 (de Brasília), sobre a extensão do teto do endividamento americano. O dólar teve comportamento misto na comparação com divisas emergentes e de países exportadores de commodities, mas recuou em relação a pares do real, à exceção do peso mexicano.

Do lado doméstico, investidores absorveram redução das expectativas para o IPCA deste ano (de 6,03% para 5,80%) e para 2024 (4,15% para 4,13%) no Boletim Focus. Pela manhã, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a redução das projeções para o IPCA em 2023 caíram “muito em função de preços de combustíveis”. Já as expectativas mais longas, para 2025 e 2026, seguem acima de 4% em razão das incertezas sobre a meta de inflação.

Para Iha, da Fair Corretora, o dólar se mantém abaixo de R$ 5,00 no curto prazo em razão da sazonalidade favorável para a balança comercial, com fluxo expressivo do agronegócio, e da perspectiva de manutenção da taxa real de juros ainda elevada, mesmo com sinais de melhora nas expectativas de inflação e perspectiva de corte da taxa Selic no segundo semestre.

“Estamos na época forte de exportação de soja e o juro alto também ajuda. Mas não vejo o dólar se mantendo abaixo de R$ 5,00. O Fed não deve cortar os juros neste ano como parte do mercado espera, e pode até ser que haja uma alta em junho”, afirma Iha, ressaltando que houve declarações duras hoje de dirigentes do BC americano.