O Ibovespa fez uma pausa para contemplar o horizonte do topo nesta última sessão do ano, intervalo em que avançou 22,28%, no que foi o melhor desempenho do índice da B3 desde 2019, quando havia subido 31,58%. Hoje, mostrou leve ajuste negativo (-0,01%) no fechamento, aos 134.185,24 pontos, tendo superado mais uma vez a máxima histórica intradia, mas não o pico nominal de encerramento – ambas as marcas renovadas na sessão anterior, a penúltima de 2023. Nos contratos futuros, o Ibovespa havia chegado ontem a 136,1 mil, novo recorde.

A série de quebras de máximas observada neste fim de ano foi iniciada em 14 de dezembro – desde então, o índice à vista registrou apenas três perdas diárias, no agregado de 10 sessões, incluindo a de hoje. A pausa nesta conclusão de ano veio após o Ibovespa ter pulverizado recordes intradia e de fechamento que estavam em vigor desde 7 de junho de 2021. De 21 de dezembro para cá, primeiro aos 132 mil e agora aos 134 mil pontos, foram quatro fechamentos consecutivos em máximas históricas.

Nesta quinta-feira, o Ibovespa oscilou dos 133.832,26 aos 134.391,67 pontos, saindo de abertura aos 134.193,59. Como ontem, o giro financeiro permaneceu enfraquecido, mas ganhou algum fôlego perto do fim, a R$ 17,3 bilhões. Em dezembro, o índice da B3 acumulou ganho de 5,38%, após avanço de 12,54% em novembro. Assim, o último bimestre foi essencial para a alta do Ibovespa em 2023, após ter encerrado outubro acumulando discreto ganho de 3,11%, convergindo então para níveis do começo de junho.

Desde o fim de outubro, a recuperação do Ibovespa correspondeu a 21 mil pontos, ou 18,59% nos dois últimos meses do ano. No quarto trimestre, o ganho do Ibovespa foi a 15,11%, após ter cedido 1,28% no trimestre anterior, de julho a setembro. No primeiro semestre, o Ibovespa havia subido 7,61%, com o ganho na segunda metade do ano avançando para 13,63%.

Assim, no quarto trimestre de 2023, o Ibovespa registrou desempenho semelhante ao do segundo trimestre do ano, quando havia avançado 15,9% após tombo de 7,16% no trimestre inaugural de Lula 3 – no que foi o pior janeiro-março desde 2020, o ano da pandemia. Desde então, as dúvidas sobre a situação fiscal em um governo inclinado a gastos públicos foi dando lugar, gradualmente, a uma recuperação de confiança dos investidores, desde a aprovação do arcabouço fiscal, mais cedo no ano, até a promulgação da reforma tributária, no fechamento de 2023.

“O ano está terminando para a Bolsa de forma muito mais positiva do que se antecipava, com um rali em dezembro fortalecido pelas indicações do Fed sobre os juros americanos. Nesta reta final, tivemos um enfraquecimento agudo do volume diário, que tem correspondido a quase um terço da média móvel do último mês, mas se trata de uma queda natural para a época do ano”, diz João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos.

Se, no plano doméstico, o arrefecimento da inflação e os cortes da Selic contribuíram também para a retomada do apetite por ações, do exterior veio, em dezembro, a sinalização suavizada do Federal Reserve para a taxa de juros de referência dos Estados Unidos, o que foi decisivo para que os juros de mercado americano – os rendimentos dos Treasuries – viessem mais abaixo, após o salto a 5% observado nos yields de 10 anos observado no fim de outubro. Hoje, o rendimento dos títulos americanos de 10 anos está em 3,84%.

Assim, o dólar à vista se acomodou a R$ 4,85 neste fechamento de ano, em queda de 8% ao longo de 2023, a maior baixa em sete anos. Tal ajuste refletiu tanto a relativa melhora da percepção fiscal doméstica como a redução dos custos de crédito lá fora – combinação que contribuiu para aumento de fluxo de recursos estrangeiros para a Bolsa a partir de novembro, com o fechamento na curva de juros futuros. Dessa forma, o Ibovespa, na moeda americana, encerra 2023 aos 27.647,67 pontos.

Em dólar, o Ibovespa havia terminado novembro a 25.905,58 pontos, superando o ponto mais alto do ano, no fim de julho, então a 25.783,48 pontos, e também o ponto mais forte, em junho de 2021 (25.496,99), do período de recuperação iniciado em março daquele ano, ainda no contexto da pandemia. Com o prosseguimento da recuperação em dezembro de 2023, o índice da B3 supera agora o nível em que se encontrava em janeiro de 2020, aos 26.548,55 pontos no fim daquele mês, quando a covid-19 ainda se insinuava como um fator de preocupação global.

Nesta última sessão de 2023, a leitura acima do esperado para a prévia da inflação oficial do mês contribuiu para a cautela observada na B3, em altura do ano em que muitos investidores optam por permanecer à margem, sem mover as carteiras. De acordo com dados divulgados hoje pelo IBGE, o IPCA-15 avançou para 0,40% em dezembro, após leitura a 0,33% no mês anterior.

O resultado veio acima da mediana de estimativas colhidas pelo Projeções Broadcast, bem como do teto – respectivamente, de 0,25% e 0,35% para o mês. O avanço da inflação em dezembro, ainda que venha a se mostrar pontual, contribui para reforçar a percepção de que a barra para o Copom acentuar o ritmo de cortes da Selic em 2024 permanece elevada – com reflexo na curva de juros doméstica, na sessão.

“O mercado já havia aberto com tendência a realizar lucros, após toda a alta que se viu em dezembro, mês em que a Bolsa andou bastante. Dados sobre a economia americana chegaram a reforçar o otimismo dos investidores também na B3, com Nova York oscilando a partir de então para o positivo, e ajudando aqui em parte da tarde, sem conseguir evitar, no fim, esse fechamento bem perto do zero a zero”, diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos.

Em Nova York, Dow Jones subiu 0,14%, S&P 500, 0,04%, e o Nasdaq cedeu 0,03% nesta quinta-feira. Na semana, os ganhos em NY ficaram entre 0,60% (S&P 500) e 0,87% (Dow Jones), enquanto o Ibovespa avançou 1,08% no intervalo, estendendo ganhos de 1,96% e de 2,44% nas duas semanas anteriores.

Na B3, as ações de grandes bancos subiram moderadamente nesta quinta-feira, com BB (ON +0,97%, máxima do dia no fechamento) e Santander (Unit +0,69%, também no pico da sessão no encerramento) à frente. O dia foi de ajustes discretos para os carros-chefes das commodities, com Vale ON em baixa de 0,26% no encerramento, negativo também para Petrobras (ON -0,41%, PN -0,32%), em leve ajuste se comparado ao do petróleo na sessão – em queda acima de 3% para o WTI e o Brent, com os dados semanais de estoques nos EUA em retração maior do que a prevista para o intervalo.

No ano, Petrobras foi o grande destaque entre as ações de maior peso e liquidez na B3, com a ON em alta de 73,09% e a PN, de 93,45%, no período.

Na ponta perdedora do Ibovespa na sessão, destaque para CVC (-12,72%), Locaweb (-4,60%) e Magazine Luiza (-4,00%). No lado oposto nesta quinta-feira, Cemig (+1,95%), MRV (+1,91%) e Taesa (+1,64%).