21/06/2024 - 16:50
Com pouco mais de 90 anos de vida, o Neoprene pode estar próximo de encerrar um ciclo. Pelo menos no mundo dos esportes. Considerado um dos polímeros mais importantes extraídos do petróleo para indústria de transformação, a borracha sintética lançada pela DuPont no início da década de 30 encontrou um concorrente que se apresenta com um ar de déjà vu.
O Neoprene foi criado para ser o substituto sintético da borracha natural. A demanda pelo látex das seringueiras era tão grande no início do século XX, que os preços no mercado internacional estavam nas alturas. Com o mundo vivendo sua segunda Revolução Industrial e os preços da borracha chegando a patamares sem precedentes, o governo americano incentivou suas indústrias químicas a desenvolverem alternativas. Em 1932, o Neoprene chegava ao mercado.
Quase um século depois e com as mudanças climáticas batendo à porta do planeta, a francesa Decathlon, maior varejista de artigos esportivos do mundo, apresentou ao mercado o Yulex100, um novo composto desenvolvido 100% a partir de borracha natural e certificada.
Foram necessários dois anos de pesquisas e testes com a americana Yulex para chegar à fórmula ideal do produto, que está sendo considerado a primeira e, até o momento, única alternativa ao Neoprene no mundo.
No universo esportivo, o novo produto será usado pela Decathlon como alternativa ao Neoprene na confecção de roupa para esportes aquáticos, como surfe e mergulho. A aposta da varejista tem uma razão: o menor impacto ambiental. As roupas de surfe e mergulho fabricadas com o Yulex emitem 80% menos CO2 quando comparadas às de Neoprene.
“Foram mais de 50 formulações e testes em laboratórios para se chegar ao produto final, que consegue ser leve, quente e durável, atendendo às exigências dos usuários”, disse Lola Molines, chefe de sustentabilidade da Decathlon no Brasil, à DINHEIRO. Segundo ela, as mais de 200 pessoas em Hendaye — centro de desenvolvimento de produtos da Decathlon voltado para o segmento de esportes aquáticos, instalado no sudoeste da França— se debruçaram sobre o projeto.
A empresa aproveitou o dia mundial dos oceanos, no início de junho, para apresentar oficialmente os novos trajes em um evento realizado na França para jornalistas e convidados.
Aqui no Brasil, o foco inicial será o segmento de surfe, com ênfase para roupas voltadas ao público infantil. A escolha não é por acaso, o público-alvo representou 34% dos trajes de surfe vendidos pela Decathlon em 2023. Dois modelos já podem ser adquiridos on-line e também nas prateleiras de 11 lojas da rede no País, pelo valor de R$ 199.
A ideia é que a iniciativa resulte em uma significativa redução no uso de Neoprene, com planos de expandir para a linha adulta em 2025. O objetivo da marca é transformar toda a linha de trajes de mergulho para ser a mais livre possível de Neoprene, expandindo a aplicação do Yulex100 para outros esportes aquáticos, como mergulho e natação em águas abertas. Além disso, será importante para que a companhia alcance os compromissos assumidos globalmente para reduzir seu número de emissões.
METAS
A Decathlon estabeleceu suas metas de descarbonização alinhadas ao Acordo de Paris e ao padrão Net Zero.
• Entre os objetivos está cortar em 20% suas emissões até 2026, reduzir em 42% até 2030, para, finalmente, alcançar o Net Zero em 2050.
• No ano passado, a empresa reduziu as emissões líquidas em 10%.
• E o comércio de produtos da linha eco-design — aqueles que comprovadamente têm menor impacto ambiental — aumentou em 3,7 vezes ante a 2021, atingindo 38,8% do volume total de vendas.
Ainda que a Decathlon almeje uma substituição de pelo menos parte dos trajes de Neoprene pelo composto à base de borracha natural, a tarefa não será simples. Estimativas indicam que o mercado mundial de borracha sintética movimente por ano um valor próximo de US$ 33,5 bilhões. E as estimativas são de crescimento. Nos próximos cinco anos, o segmento deve superar a marca de US$ 41 bilhões em termos globais.
Desenvolver produtos com menor impacto é apenas um dos três pilares da Decathlon para reduzir suas emissões.
• Outra vertente passa pela descarbonização de toda a sua cadeia de fornecedores, onde a empresa incetiva não apenas a redução no consumo de energia, como também a adoção de fontes renováveis.
• O terceiro pilar inclui a reformulação do próprio modelo de negócios da Decathlon.
Na Europa, a empresa já tem implementado um sistema de aluguel de equipamentos, revenda e reparo de produtos. A ideia é expandir o ciclo de vida dos itens, oferecendo aos clientes os insumos necessários para que os mesmos realizem reparos por conta própria ou possam utilizar as oficinas disponíveis nas lojas. “Hoje, uma das minhas principais missões é trazer esse modelo da Europa aqui para o Brasil. Em breve, será possível encontrar esse novo modelo por aqui”, afirmou Lola. O meio ambiente agradece.