Após romper o piso de R$ 5,40 pela manhã, em meio ao impacto da leitura benigna do IPCA de junho e à valorização de divisas emergentes latino-americanas, o dólar ganhou força ao longo da tarde, operando pontualmente em leve alta. A divisa perdeu força novamente nas últimas horas do pregão e terminou o dia cotada a R$ 5,4126 (-0,04%).

Operadores afirmam que houve certa acomodação do mercado de câmbio na segunda etapa de negócios, com movimentos de correção e realização pontual de lucros naturais depois de uma sequência expressiva de baixa. Pela manhã, a divisa registrou mínima a R$ 5,3731, menor valor intradia desde 14 de junho (R$ 5,3456). Ontem, com liquidez reduzida em razão do feriado da Revolução Constitucionalista em São Paulo, a moeda americana havia recuado 1,13%.

Com a baixa de hoje, o dólar passou a acumular queda de 0,91% na semana, o que leva a desvalorização em julho a 3,14%. A recuperação do real nas últimas sessões é atribuída tanto a um ambiente externo mais favorável a divisas emergentes quanto à diminuição da percepção de risco doméstico, após o reiterado compromisso do governo com as metas fiscais e a ausência de novas críticas do presidente Lula ao Banco Central.

Segundo o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, o mercado já incorporou a mudança do tom do presidente Lula em relação às políticas monetária e fiscal à cotação da taxa de câmbio nos últimos dias e busca agora uma acomodação.

“Os movimentos devem ser menores daqui para frente, até porque temos ainda incertezas, como a regulamentação da reforma tributária no Congresso e a questão da compensação das desonerações”, afirma Galhardo, que, por ora, trabalha com uma banda larga para a taxa de câmbio no curto prazo, entre R$ 5,30 e R$ 5,40.

No exterior, o índice DXY – que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operou em leve queda ao longo da tarde, perto do piso dos 105,000 pontos. A moeda americana caiu em relação à maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities, em especial as latino-americanas, em meio à baixa moderada dos retornos dos Treasuries de 10 anos.

Em pronunciamento hoje na Câmara dos Representantes, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, trouxe a mesma mensagem apresentada ontem no Senado americano ontem: o Fed não precisa esperar a inflação chegar à meta de 2% ao ano para cortar os juros. Um afrouxamento monetário está condicionado, contudo, aos próximos indicadores econômicos e a uma maior confiança na continuidade do processo de desinflação.

Investidores aguardam a divulgação amanhã, 11, do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA em junho para refinar as apostas em torno dos próximos passos do Fed. Por ora, as chances de corte da taxa básica de juros em setembro superam 70%, segundo ferramenta de monitoramento do CME Group.

“Powell adotou um tom mais ponderado para falar sobre o controle da inflação. A verdade é que não tem muito espaço para prolongamento desse nível de juros altos. A perspectiva é de que haja mesmo uma queda neste ano, o que ajuda divisas emergentes”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.

Por aqui, o IBGE informou pela manhã que o IPCA desacelerou de 0,46% em maio para 0,21% em junho, abaixo da mediana (0,32%) e do piso (0,27%) das estimativas colhidas por Projeções Broadcast. Além do resultado abaixo do esperado do índice cheio, a leitura foi considerada benigna, com desaceleração de núcleos e menor difusão.

“O IPCA trouxe uma melhora no mercado de câmbio pela manhã. A inflação corrente está mais benigna e parece que não haverá necessidade de o BC aumentar juros neste ano”, afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli. “Tivemos uma correção à tarde, mas a sensação é de que o ambiente tanto interno quanto externo é um pouco melhor, com IPCA e a sinalização do BC americano de possibilidade de queda de juros neste ano.”