O dólar à vista fechou nesta terça-feira,16, em leve baixa ante o real, acompanhando o recuo da moeda norte-americana ante outras divisas no exterior, em meio às apostas de que o Federal Reserve começará a cortar juros em setembro, enquanto no Brasil, ruídos em torno de uma entrevista concedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxeram volatilidade aos negócios.

O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,4293 na venda, em queda de 0,28%. Em julho, a divisa acumula baixa de 2,89%.

Às 17h03, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,37%, a R$ 5,4415 na venda.

O Ibovespa também encerrou em queda nesta terça-feira, após uma sequência de 11 altas seguidas, em um pregão marcado por desempenho positivo em Nova York, mas queda nos papéis de Vale e Petrobras e reação do mercado a falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva relacionadas ao fiscal.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa perdeu 0,16%, a 129.110,38  pontos, o primeiro fechamento negativo do mês, após 11 altas seguidas que igualaram série registrada entre o fim de 2017 e o início de 2018.

No pior momento, chegou a perder o patamar de 129 mil pontos alcançado na véspera, a 128.760,81 pontos. Na máxima, marcou 129.520,99 pontos. O volume financeiro somou R$ 17,93 bilhões.

O dólar no dia

Pela manhã o dólar sustentou baixas ante o real e ante outras divisas de países exportadores de commodities e emergentes, com investidores elevando as apostas de que o Federal Reserve começará a cortar juros já em setembro.

Isso abriu espaço para o dólar à vista atingir a cotação mínima de 5,4058 reais (-0,72%) às 10h47.

Perto das 12h20, no entanto, começaram a circular pelas mesas de operação informações de que Lula, em entrevista à TV Record gravada pela manhã, teria dito que será preciso convencê-lo de que será mesmo necessário contingenciar entre 15 bilhões e 20 bilhões de reais do Orçamento deste ano. A íntegra da entrevista está programada para as 19h55.

Os comentários de Lula — que circularam sem o contexto da pergunta e sem os detalhes da resposta completa — estressaram os mercados e fizeram o dólar virar do negativo para o positivo ante o real. Na renda fixa, as taxas de alguns DIs (Depósitos Interfinanceiros) zeraram as perdas.

Operador ouvido pela Reuters pontuou que a fala de Lula, sugerindo pouco comprometimento com o ajuste fiscal, foi mal recebida nas mesas.

Assim, na máxima do dia, às 13h41, o dólar à vista foi cotado a 5,4641 reais (+0,35%).

Após as 14h, a Record publicou um trecho em vídeo da entrevista de Lula, no qual o presidente é questionado sobre se está disposto a contingenciar o valor de 15 bilhões a 20 bilhões de reais para equilibrar as contas públicas.

“Primeiro eu tenho que estar convencido se há ou não a necessidade de cortar”, disse o presidente. “Tenho uma divergência histórica e uma divergência de conceito com o pessoal do mercado. É que nem tudo que eles tratam como gasto eu trato como gasto”, acrescentou.

O trecho do vídeo, apesar de confirmar a ideia de que Lula precisaria ser “convencido” do contingenciamento, esclareceu o contexto do comentário, reduzindo os ruídos de mais cedo. O dólar voltou a oscilar em queda ante o real, enquanto as taxas dos DIs retomaram as baixas, ainda que o mercado mantivesse a expectativa pela divulgação da íntegra da entrevista de Lula.

Questionado sobre a fala de Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a declaração do presidente sobre o governo não ser obrigado a cumprir a meta fiscal está fora de contexto.

Na reta final dos negócios no câmbio, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que o mercado de trabalho aquecido indica um processo de recuo mais lento da inflação, em um cenário que, somado a fatores externos, fez a autarquia migrar para um período de “um pouco mais de cautela”.

Em evento promovido pelo Sicredi em Anápolis (GO), Galípolo reafirmou que a desancoragem de expectativas do mercado para a inflação brasileira elevou a preocupação do BC, ressaltando que a previsão de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos gera elevação na expectativa da taxa de juros terminal em países emergentes e fortalece o dólar.

Os comentários de Galípolo não fizeram preço no câmbio antes do fechamento do segmento à vista.

No exterior, às 17h09, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,03%, a 104,210. O dólar também cedia ante divisas pares do real como o rand sul-africano e o peso mexicano.

O dia do Ibovespa

O indicador passou boa parte da manhã operando entre leve queda e estabilidade, até aprofundar o declínio e atingir a mínima intradia, por volta das 13h40, pouco antes da divulgação de trechos da entrevista de Lula à Record, nos quais o presidente diz não ser obrigado a cumprir meta fiscal se tiver “coisas mais importantes para fazer”.

Antes da publicação dessa prévia da conversa, que será veiculada na íntegra às 19h55, já circulavam nas mesas de operação informações sobre as falas de Lula, que concedeu a entrevista à emissora pela manhã.

“O mercado interpretou muito mal a fala do presidente Lula”, disse gestor e analista da BVC Renato Nobile. Ele afirmou, no entanto, que o cenário ainda está “muito mais benigno” para a bolsa brasileira no mês, que sobe 4,2% no período.

A queda mais acentuada também durou pouco, e por volta das 15h, o índice já havia voltado a operar próximo da estabilidade. Não conseguiu, contudo, virar para terreno positivo, pressionado por declínio em ações de algumas empresas ligadas a commodities.

O ministro da Economia, Fernando Haddad, disse posteriormente que a declaração de Lula estava fora de contexto, e que outros trechos mostrarão o compromisso do governo com o arcabouço fiscal. A sessão encerrava ainda em meio a falas do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, em evento promovido pelo Sicredi.

A estrategista de ações de research da XP Jennie Li citou também movimento de realização de lucros, após sucessivos avanços.

Destoando do indicador brasileiro, os principais índices de ações nos Estados Unidos encerraram em alta, com o Dow Jones fechando em uma máxima recorde.

As vendas no varejo dos EUA ficaram inalteradas em junho, segundo dados do Departamento de Comércio desta terça-feira. Para o sócio e head de análise da Levante Investimentos, Enrico Cozzolino, o cenário mantém as apostas de um primeiro corte de juros pelo Federal Reserve já em setembro.

Ainda estiveram no radar resultados de empresas norte-americanas, em meio à temporada de balanços corporativos naquele país.

 

DESTAQUES

– VALE ON caiu 1,05%, em sessão negativa para os futuros do minério de ferro na Ásia, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) encerrou as negociações do dia com perda de 0,96%, a 824 iuans (113,41 dólares) a tonelada. A mineradora divulga nesta terça-feira relatório de produção e vendas do segundo trimestre.

– PETROBRAS PN fechou com variação negativa de 0,26%, acompanhando o recuo nos preços do petróleo no exterior. O barril de Brent, usado como referência pela estatal, encerrou com declínio de 1,32%, a 83,73 dólares. No setor, PRIO ON recuou 2,3%.

– CSN MINERAÇÃO ON perdeu 2,17%, CSN ON teve queda de 2,67%, enquanto GERDAU PN subiu 2,15%.

– GPA ON despencou 7,94%, após informar na véspera que não tem conhecimento sobre eventual venda de suas ações detidas pelo Casino, nem da possibilidade de uma oferta de um terceiro pela participação. A Cencosud também disse que não está participando de quaisquer negociações envolvendo a compra das ações do GPA.

– ENEVA ON fechou com acréscimo de 0,23%, após anunciar follow-on de até 4,2 bilhões de reais, além de acordos para uma incorporação de ativos do seu acionista BTG Pactual, em operação que adicionará ao portfólio da companhia usinas termelétricas operacionais e para desenvolvimento e que torna a Eneva a plataforma do banco para atuar em geração de energia e gás natural. BTG PACTUAL UNIT perdeu 0,37%.

– SABESP ON encerrou com recuo de 0,15%. A companhia de água e saneamento básico do Estado de São Paulo confirmou nesta terça-feira a Equatorial Energia, única finalista no processo de disputa por um investidor estratégico para a empresa, como investidora de referência no processo de privatização da empresa. EQUATORIAL ON perdeu 0,18%.

– ITAÚ UNIBANCO PN subiu 0,6%, BANCO DO BRASIL ON avançou 0,33%, BRADESCO PN teve variação positiva de 0,32% e SANTANDER BRASIL UNIT ganhou 1,55%, liderando as altas no setor bancário.