O dólar à vista registrou leve alta nesta terça-feira, 27, no Brasil, mas o suficiente para terminar novamente acima dos R$ 5,50, com as cotações acompanhando o avanço da moeda norte-americana ante outras divisas de emergentes no exterior, enquanto investidores aguardam a divulgação de dados econômicos no restante da semana.

O dólar à vista fechou em leve alta de 0,18%, cotado a R$ 5,5028. Em agosto, porém, a divisa acumula baixa de 2,71%.

Às 17h22, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,16%, a R$ 5,5070 na venda.

O Ibovespa encerrou a sessão da terça-feira com um declínio marginal depois dos ajustes finais do pregão, reflexos de movimentos de realização de lucros após renovar máxima histórica intradia que prevaleceram sobre a alta de 3% da Vale.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa apurou oscilação negativa de 0,08%, a 136.775,91 pontos, tendo marcado 137.212,64 pontos na máxima, novo topo histórico intradia, e 136.664,4 pontos na mínima do dia. Antes dos ajustes, mostrava acréscimo de 0,09%, a 137.009,39 pontos.

O volume financeiro somou R$ 17,956 bilhões.

O dólar no dia

Em um dia de agenda relativamente esvaziada no exterior, faltou ao mercado de câmbio um gatilho realmente forte que pudesse influenciar as cotações.

O dólar sustentou ganhos ante divisas como o peso mexicano, o peso colombiano e o peso chileno, o que trazia um viés de alta também em relação ao real. Mas como em sessões anteriores, as oscilações eram limitadas, com investidores aguardando novos dados para precificar melhor o início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos.

Na quinta-feira saem nos EUA dados do Produto Interno Bruto e na sexta-feira o índice de preços PCE, bastante observado pelo Federal Reserve na formulação da política monetária.

“Hoje ainda tivemos um pouco de aversão a risco, por conta do conflito envolvendo Israel no Oriente Médio, que ontem deu força ao dólar. Mas a precificação é contida, e o mercado caminha de lado, aguardando novos dados”, avaliou Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

Internamente, destaque para a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que subiu 0,19% em agosto, após alta de 0,30% em julho. Em 12 meses ele ficou em 4,35%, um pouco abaixo do teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central, de 4,5%.

Economistas consultados pela Reuters estimavam alta de 0,20% do IPCA-15 em agosto, com aumento de 4,45% na comparação anual. Na abertura do índice, profissionais destacaram a desaceleração das taxas de serviços, serviços subjacentes e média dos núcleos, entre outros.

Os dados foram considerados favoráveis por boa parte dos analistas, mas ainda assim o dia foi de alta das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros), que voltaram a precificar 100% de chances de elevação da taxa Selic em setembro. Atualmente a taxa básica de juros está em 10,50% ao ano.

Ainda que a precificação dos mercados indique corte de 25 pontos-base de juros pelo Federal Reserve em setembro e alta de 25 pontos-base pelo Banco Central no mesmo mês — o que elevaria o diferencial de juros para o Brasil — o dólar se manteve em patamares elevados.

“Se isso se confirmar (corte de juros nos EUA e aumento no Brasil), há espaço para um dólar a 5,30 reais ou mesmo 5,20 reais”, pontuou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior. “Mas vamos ter que esperar um pouco para esta movimentação.”

Nesta terça-feira, após registrar a cotação mínima de 5,4758 reais (-0,30%) às 9h, na abertura dos negócios, o dólar à vista atingiu a máxima de 5,5201 reais (+0,50%) às 12h45. Depois, encerrou o dia na faixa dos 5,50 reais.

Às 17h19, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas fortes — caía 0,29%, a 100,560.

O dia do Ibovespa

De acordo com o analista chefe da Levante Inside Corp, Eduardo Rahal, a bolsa paulista refletiu movimentos de realização de lucros em vários papéis, enquanto o desempenho das ações da Vale forneceu uma contribuição positiva relevante, endossadas pela alta do preço do minério de ferro na China e alívio com anúncio do novo presidente-executivo.

Na carteira teórica do Ibovespa em vigor, os papéis da mineradora respondem por uma participação ao redor de 13,3%. Para efeito de comparação, as ações preferenciais e ordinárias da Petrobras combinadas têm um peso de 12,8%.

Investidores do mercado brasileiro também repercutiram dados mostrando desaceleração na alta do IPCA-15 em agosto para 0,19%, após aumento de 0,30% no mês anterior, conforme divulgado pelo IBGE. Em 12 meses, a inflação ao consumidor ficou em 4,35%, um pouco abaixo do teto da meta do BC de 4,5%.

Na visão dos economistas Victor Beyruti Guglielmi e uri Alves, da Guide Investimentos, o IPCA-15 mostrou uma ligeira melhora na dinâmica inflacionária com relação à leitura anterior, mas sem aliviar as preocupações mais latentes Banco Central e, consequentemente, do mercado.

Na B3, as taxas dos DIs fecharam a terça-feira em alta, com a curva a termo brasileira precificando novamente 100% de probabilidade de alta da taxa Selic em setembro.

Nos Estados Unidos, Wall Street registrou variações modestas no término das negociações, com o S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano, subindo 0,16%, enquanto o rendimento do título de 10 anos do Tesouro marcava 3,833% no final da sessão, de 3,818% na véspera.

DESTAQUES

– VALE ON subiu 3,01%, em meio à repercussão positiva do anúncio da mineradora de que o atual vice-presidente executivo de Finanças, Gustavo Pimenta, será o próximo presidente-executivo da companhia. O movimento das ações ainda era apoiado pela alta dos futuros do minério de ferro na Ásia. Na máxima, a ação valorizou-se 3,60%

– PETROBRAS PN recuou 1,34%, em sessão de ajustes, após marcar novas máximas históricas na véspera, quando saltou mais de 7%. A correção de baixa foi avalizada pelo declínio dos preços do petróleo no mercado internacional. No setor, PETRORECONCAVO ON caiu 2,73% e 3R ON cedeu 2,02%, mas PRIO ON subiu 1,04%.

– LOJAS RENNER ON fechou em alta de 3,67%, renovando máxima de fechamento em cerca de um ano a 18,35 reais. Analistas do Bank of America elevaram previsão de lucros para 2024 e 2025 da varejista, bem como o preço-alvo dos papéis de 21 para 22 reais. A recomendação de “compra” foi mantida.

– MRV&CO ON valorizou-se 3,33%, tendo como pano de fundo comunicado da construtora de que a Real Investor Asset Management aumentou sua participação na companhia para 5,08% da base acionária.

– BRF ON avançou 2,41%, com analistas do JPMorgan avaliando que as ações, assim como as da JBS, continuam com valuation atrativo, uma vez que o momento robusto para os resultados ainda não acabou. Os analistas elevaram o preço-alvo de BRF de 25,50 para 29 reais e de JBS de 37 para 43 reais, reiterando “overweight” a ambos. JBS ON cedeu 0,06%.

– ITAÚ UNIBANCO PN subiu 0,11%, com os rivais BRADESCO PN e BANCO DO BRASIL ON perdendo 1,22% e 1,13%, respectivamente, enquanto SANTANDER BRASIL UNIT fechou com variação negativa de 0,32%.

– SÃO MARTINHO ON perdeu 3,49%, após desempenho robusto na véspera (+3,58%). Na noite de segunda-feira, a empresa disse que aproximadamente 20 mil hectares de cana-de-açúcar da companhia foram atingidos por incêndios entre os dias 22 e 25 agosto. E para preservar a produtividade nas safras seguintes investirá 70 milhões de reais.

– COGNA ON caiu 1,38%. Relatório do JPMorgan cortou recomendação da Vasta, controlada pelo grupo de educação, para “underweight” ante “overweight”, citando perspectiva de margens. VASTA, que é negociada no mercado norte-americano, desabou 19,5%. O JPMorgan manteve a recomendação “overweight” para Cogna.