O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse que o atual presidente da autarquia deve se ater a ‘tomar as decisões corretas’ e subir os juros ainda que essa seja uma postura que incomode o Planalto.

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“O que eu diria para Galípolo é: tome as decisões corretas. Os modelos de previsão de inflação do Banco Central são muito bem feitos, então é muito clara a indicação de qual é a Selic que deve ser adota para que a inflação chegue à meta. No curto prazo, nenhum governo gosta de juros altos, mas olhando um pouco a frente, no momento que se controla a inflação o país cresce, mais empregos são gerados e não é bom apenas para a população mas também para o governo”, disse Meirelles.

“É uma coisa que desagrada o governo em um primeiro momento, mas é importante não só que o Banco Central cumpra sua missão básica, mas tome decisões que mesmo que sejam difíceis a curto prazo, levem a inflação para a meta. Assim o país consegue crescer com inflação controlada, que é bom para todos – inclusive para quem reclama, que é o governo”, completou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira, 12, que Galípolo ‘consertará’ a taxa de juros do Brasil, mas afirmou que é preciso dar o tempo necessário para isso.

“Eu tenho certeza que o Gabriel Galípolo vai consertar a taxa de juros neste país e nós só temos que dar a ele o tempo necessário para fazer as coisas”, disse Lula em entrevista à rádio Diário, de Macapá (AP).

“Ele não poderia entrar e dar um cavalo de pau. ‘Estamos a 180km/h, vamos voltar para 30km/h’. Não! É preciso que vá com cuidado para que a gente não dê uma trombada. Possivelmente o Galípolo passará para a história como o melhor presidente que o Banco Central já teve”, concluiu.

O mandatário ainda atribuiu o patamar da Selic – atualmente em 13,25% – ao antigo presidente do BC, Roberto Campos Neto, que fora indicado por Bolsonaro.

“Eu acho que o Roberto Campos, na verdade, foi um cidadão que teve um comportamento muito anti-Brasil no Banco Central. Ele era um cara que falava mal do Brasil o tempo inteiro, passava descrédito para os empresários, inclusive no exterior, e ele foi se comprometendo e foi aumentando cada vez mais a taxa de juros.”

Situação do Brasil pode se complicar em alguns anos, diz Meirelles

Questionado sobre o pessimismo de Armínio Fraga, que também ocupou a cadeira de presidente do Banco Central, Meirelles declarou que o problema fiscal do Brasil é palpável, mas que não vê uma recessão batendo na porta no curto prazo.

Todavia, estima que se os problemas no campo fiscal perdurarem o país pode ter ‘problemas sérios’.

Fraga afirmou nesta semana que o atual cenário econômico do Brasil apresenta sintomas muito graves de um ‘paciente na UTI’, citando que os juros futuros estão ‘na lua a perder de vista’.

“Estamos com expansão fiscal maior do que é sustentável a longo prazo. Isso significa que o governo arrecada menos do que gasta, então isso faz com que a dívida pública siga subindo e chega em um ponto que começa a ficar difícil financiar a dívida pública, porque os agentes econômicos começam a cobrar juros cada vez maiores. Isso justifica esse tipo de opinião”, disse.

“A diferença de um ser humano na UTI para um país é que, no caso do ser humano, é questão de dias [para falecer]. Estamos em uma situação que, se continuar ao largo de alguns anos, podemos vir a ter problemas sérios”, concluiu Meirelles.