Afundado na pior das crises fiscais que assolam os Estados e de ressaca após investimentos para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, o Rio ficou de fora do movimento de início de recuperação do mercado de trabalho no País como um todo. No 1.º semestre, foram fechadas 65.582 vagas de emprego formal no Rio, pior desempenho entre todos os Estados, revela estudo da CNC, com dados do Caged.

Com a crise, o governo fluminense acumula dívida de cerca de R$ 8 bilhões com fornecedores e os atrasos de salários somam cerca de R$ 2,4 bilhões, incluindo parte do 13º. O resultado é a lentidão ainda maior na recuperação do consumo, com impacto direto no comércio.

Tanto que o varejo foi o setor que mais fechou vagas com carteira assinada no Rio no 1.º semestre – o saldo negativo no Caged foi de 20.447 vagas.

Desde o início da recessão, em 2014, 49.762 estabelecimentos comerciais fecharam no Estado, segundo o Clube de Diretores Lojistas do Rio (CDLRio). No 1.º semestre deste ano foram 9.730 lojas fechadas, salto de 55% ante o mesmo período de 2016. Na média, foram fechadas 54 lojas por dia. “O Estado do Rio está falido. Há 200 mil funcionários públicos sem receber e a crise da Petrobrás levou ao cancelamento de contratos e a demissões”, disse o presidente do CDLRio, Aldo Gonçalves.

O coordenador de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), William Figueiredo, lembra que servidores públicos têm renda acima da média e, portanto, peso maior no consumo das famílias. Sem garantia de receber salários em dia, os funcionários públicos retraem seu consumo, principalmente de bens mais caros, como imóveis.

O setor da construção no Rio foi atingido em cheio tanto pela queda na demanda por imóveis quanto pelo fim das grandes obras de infraestrutura com vistas aos Jogos Olímpicos, como a revitalização da região portuária e a Linha 4 do Metrô. Conforme o Caged, no total, foram fechadas 6.633 vagas na construção civil no primeiro semestre.

Bicos

Jefferson da Silva Teixeira dos Santos, de 24 anos, foi demitido há três meses. Seu último emprego foi na Construtora Santa Isabel, onde trabalhou como auxiliar de almoxarifado de uma obra que foi paralisada. Desde a demissão, faz bicos nos fins de semana como guardião de piscinas em condomínios. “Tenho muita fé em Deus de melhorar alguma coisa, mas quando a gente vai num canteiro de obra e vê um mestre de obras falando que a tendência é só piorar o País, a gente fica até um pouco mais abalado”, disse.

A ressaca após os Jogos Olímpicos não está só na paralisação de novas obras de infraestrutura, mas também nos hotéis vazios. O setor hoteleiro investiu pesadamente em expansão e apostou num aumento permanente da demanda, que não veio. Vazios, os hotéis demitem. No 1.º semestre, foram fechadas 12.655 vagas no setor serviços de alojamento e alimentação, que inclui a hotelaria.

Tiago Rodrigues, de 20 anos, foi demitido depois de um ano e dois meses trabalhando como recepcionista de um hotel na zona sul da capital. “Com o aumento no número de assaltos, os turistas não querem vir para o Rio. Quero continuar na hotelaria, por isso cogito sair da cidade e até do Estado”, disse Rodrigues na semana passada, quando foi ao sindicato para assinar sua rescisão. O hotel dispensou metade da equipe de recepção. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.