12/12/2017 - 8:30
A uma semana da saída de Marcelo Odebrecht da prisão, a Odebrecht S/A, holding que reúne os negócios da família, anunciou nesta segunda-feira, 11, mudança em sua política de governança com o objetivo de separar acionistas e gestão. A empresa afirmou que, a partir de agora, o diretor-presidente da Odebrecht S/A não poderá ser mais membro da família. O executivo, porém, será escolhido pelo presidente do conselho, cargo hoje exercido por Emílio Odebrecht.
No comunicado divulgado nesta segunda, a empresa anunciou ainda a intenção de atrair sócios e abrir o capital da Odebrecht S/A. Definiu também limites de idade para executivos (65 anos) e conselheiros (75 anos). A companhia já havia anunciado outros compromissos de governança, como a representação mais plural em seu conselho de administração, e medidas organizacionais, como a mudança de nome de alguns de seus negócios.
A presença de Emílio Odebrecht na presidência do conselho é reflexo de acordo que permitiu ao executivo comandar a reorganização da holding até 2018, com a meta de fazer mudanças para impedir que os negócios “sangrem” ainda mais. Desde o início da Lava Jato, em 2014, o grupo viu seu total de funcionários encolher em mais de 60% – há três anos, a companhia tinha 200 mil colaboradores; hoje, são 75 mil.
Embora hoje o comando da Odebrecht S/A seja exercido por Luciano Guidolin – que não é da família, mas tem mais de 20 anos no grupo -, a decisão anunciada afasta a possibilidade de que um Odebrecht possa retomar a função. Com a saída da prisão marcada para o próximo dia 19, Marcelo Odebrecht está impedido de voltar ao cargo. O acordo com a Justiça prevê que ele fique fora do grupo pelo menos até 2019.
Segundo uma fonte de mercado, o processo de transformação organizacional da Odebrecht não estaria concluído. Embora o comunicado divulgado diga que “a família será representada na Odebrecht S/A pelo presidente do CA (conselho de administração)”, o Estado apurou que não está descartada a possibilidade de a família se abster também desta função no futuro.
Reações. Para analistas, manter a escolha do principal executivo nas mãos da família pode dar a impressão de que a mudança é inócua. Segundo Herbert Steinberg, sócio da consultoria Mesa Corporate, a decisão da Odebrecht nada muda na prática. “O executivo escolhido, naturalmente, precisará estar alinhado aos interesses da família”, disse o consultor. Na visão de Steinberg, a obrigação de responder diretamente à família vai dificultar a atração de executivos com experiência internacional, reduzindo a chance de recuperação econômica do grupo.
Outro especialista em governança corporativa, que pediu para não se identificar, afirmou que, sem a saída efetiva da família do negócio, o “ressentimento” da sociedade com a empresa dificilmente passará. Para a fonte, será necessária uma legislação, no futuro, mais parecida com a dos Estados Unidos, que prioriza a manutenção dos empregos e agiliza a troca do controle em grupos que perderam sua reputação. Segundo ele, a impressão hoje é de que, após todo o escândalo de corrupção, nada mudará para os donos de grandes conglomerados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.