O ex-banqueiro italiano naturalizado brasileiro Salvatore Alberto Cacciola, 67 anos, está no mercado novamente. Protagonista de um dos maiores escândalos financeiros do País, o ex-dono do banco Marka conseguiu  sua liberdade condicional na quinta-feira 25, quando deixou o presídio de Bangu 8, na zona oeste do Rio de Janeiro, após quase quatro anos atrás das grades. Agora, Cacciola  cumprirá em casa o restante de sua pena de 13 anos de prisão pelos crimes de gestão fraudulenta e desvio de dinheiro público. Seu advogado, Manuel Jesus Soares, disse à DINHEIRO que seu cliente “certamente vai procurar um trabalho, vamos ver o que ele encontrará”.  O mais provável é que trabalhe na fábrica de móveis da família ou transforme o antigo banco Marka numa construtora.  Soares foi entrevistado por telefone enquanto conduzia Cacciola da prisão para sua nova casa, em local não revelado. 

Ao fundo, ouvia-se a voz animada e risadas do ex-banqueiro, que não quis falar com a DINHEIRO. “O que ele faz questão que vocês publiquem é que vai cumprir todas as condições exigidas pelo livramento condicional”, disse Soares.  Isso inclui ter uma residência fixa e não deixar o Rio de Janeiro sem autorização da Justiça, além de se apresentar periodicamente à Vara de Execuções Penais da Justiça do Rio, que concedeu sua liberdade condicional. A observação do advogado não é gratuita. Há 11 anos, quando foi preso pela primeira vez, Cacciola aproveitou-se de um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), depois de apenas 37 dias de cadeia, para fugir para a Itália. A operação de fuga foi mirabolante, com o uso de carros, um helicóptero e aviões para escapar até Buenos Aires e de lá embarcar para Roma. 

 

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2011: 27 de janeiro – O ex-banqueiro consegue progressão para o regime semiaberto |15 de julho – A pena de 13 anos de prisão é reduzida em um quarto |

25 de agosto - O banqueiro consegue livramento condicional para cumprir o restante da pena em casa

 

O ex-banqueiro permaneceu na Itália durante sete anos, onde abriu um hotel, que possui até hoje. Cacciola só foi preso novamente em 15 de setembro de 2007, quando foi visitar a namorada em Mônaco.  Desde sua extradição, em 2008, cumpria pena em Bangu, na  zona oeste do Rio. Agora, segundo seu advogado, Cacciola buscará a absolvição. “Ainda cabem recursos no Superior Tribunal de Justiça e no STF”, disse Soares.Não será uma tarefa fácil, não apenas porque o caso Marka foi um dos maiores escândalos financeiros brasileiros, mas também pela atitude do banqueiro de desafio à Justiça. Em 1999, o Marka apostava que o regime cambial não mudaria, quando veio a maxidesvalorização. O banco quebrou e foi socorrido pelo Banco Central (BC) com R$ 1,5 bilhão para evitar a contaminação do  sistema bancário. 

 

O escândalo envolveu denúncias de informação privilegiada. Cacciola teria conseguido o socorro por intermédio  de seu consultor, Luiz Augusto Bragança, que era amigo de infância do então presidente do BC, Francisco Lopes. A polêmica continuou acompanhando o banqueiro em diversas fases: foragido da Justiça na Itália,  publicou sua autobiografia, na qual faz acusações a policiais, juízes e promotores.  Preso no Rio, continuou nas manchetes dos jornais. Cometeu faltas graves em Bangu em 2009 e chegou a ser confinado numa solitária. Ofendeu um agente penitenciário e, em outra ocasião, tirou fotos dentro da cela. “Isso é passado”, rebate o advogado Soares, para quem seu cliente mudou e agora levará  uma vida regrada, longe do vício e do jogo. Praticamente um santo.

 

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