08/12/2004 - 8:00
Jacks Rabinovich é um empresário à moda antiga. Construiu sua fortuna num tempo em que guardar dinheiro no banco e multiplicá-lo a partir de juros galopantes não era prática comum. O ponto de partida foi a indústria têxtil, numa pequena confecção montada em sociedade com a família Steinbruch. Cada centavo que os sócios economizavam era reinvestido na empresa, que produzia novos lucros, que era aplicado em outra fábrica, que gerava mais dividendos… Na metade do século passado, ser empreendedor era, de fato, empreender. Rabinovich é dessa época. É verdade que se adaptou ao longo do tempo e seu sucesso empresarial retrata bem isso. Mas agora, aos 75 anos, ele dá sinais de cansaço. Confidencia a pessoas próximas que já vê a aposentadoria como uma alternativa e admite vender tudo. E mais que pendurar as chuteiras, sua saída abre uma chance real de um movimento de consolidação na siderurgia e uma oportunidade única no setor têxtil. Afinal, as famílias Steinbruch e Rabinovich são donas, hoje, de um grupo que controla a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Vicunha Têxtil. Duas gigantes reunidas na holding Textilla, cujo controle é quase igual. Fica 45% para os Rabinovich (incluindo os herdeiros da irmã de Jacks, Clotilde) e 55% para os Steinbruch. Estima-se, no mercado, que só a parte dos Rabinovich na CSN valeria R$ 3 bilhões, isso sem contar a parcela na Vicunha, que ainda não foi avaliada.
A Vicunha é hoje um dos cinco maiores produtores do mundo de índigo, material usado nas populares calças jeans. Com um faturamento de R$ 1,65 bilhão, a empresa é conhecida em todos os continentes e emprega 3,5 mil funcionários. Está entre as três maiores companhias de tecido do País e é a única que produz desde o fio até o produto final. A CSN, então, dispensa comentários. Com uma receita de R$ 8,3 bilhões, a companhia é um dos ativos mais desejados da siderurgia no mundo. Bastou Rabinovich sinalizar que poderia vestir o pijama para que o mercado começasse a se mexer. Quando circulou a notícia de que o banco Goldman Sachs teria sido contratado para fazer a avaliação de ativos, a movimentação ganhou força.
A gigante brasileira Gerdau já levantou a mão. Há duas semanas, executivos da siderúrgica de Jorge Gerdau Johannpeter estiveram reunidos com o mercado. E os analistas confidenciaram à DINHEIRO que a posição do grupo foi clara: se a CSN estiver à venda, existe o interesse. A Gerdau não desmentiu. Por meio de sua assessoria de imprensa, limitou-se a dizer que não tinha nada mais a acrescentar sobre o assunto. Tudo, afirmou, havia sido falado durante o encontro com os investidores. E é simples entender o seu interesse. Como dificilmente há espaço para ela crescer no mercado de aços longos (muito usados pela construção civil), sem esbarrar nos órgãos que zelam pela concorrência no País, a Gerdau está de olho no interessante segmento de aços planos. E nesse setor a CSN é muito forte. Fundamental para a indústria automotiva e eletroeletrônica, o aço plano no País ainda não tem a marca Gerdau. ?No mundo, há um movimento de consolidação na siderurgia e o Brasil não foge à regra?, afirma Pedro Gaudio, analista da ABN-Amro Corretora. Ele acredita que Benjamin Steinbruch, presidente da CSN, está apenas à espera de uma boa oportunidade para se desfazer do negócio. Boa oportunidade que levará algum tempo para aparecer, porque o valor da siderúrgica beira os R$ 16 bilhões.
Rabinovich assiste a toda essa movimentação na siderurgia de camarote. O aço nunca foi a menina dos olhos do empresário. Uma possível venda da CSN até garantiria uma tranqüila aposentadoria. Mas com a parte têxtil é diferente. Há o vínculo emocional. ?O desenvolvimento dessa indústria no Brasil tem as digitais de Rabinovich?, afirma Edson Vaz Musa, ex-presidente da francesa Rhodia e que atualmente é sócio da EVM Empreendimentos. ?Ele lutou por um setor competitivo e exportador. Conseguiu?, lembra José Carlos Grubisich, hoje presidente da petroquímica Braskem e que também comandou a Rhodia. E a personalidade forte também surgia na hora de fechar contratos. Musa lembra bem disso. Como a Rhodia era uma fornecedora de peso para a Vicunha, ele conheceu de perto o que é bater o martelo com Rabinovich. ?Tinha uma determinação e autoconfiança que beirava a arrogância.
Mas era um excelente negociador?, dispara Musa. ?Sempre
buscava o último centavo?, lembra Grubisich.
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