28/01/2019 - 20:52
O diretor Financeiro da mineradora Vale, Luciano Siani, apelou para as 2 milhões de pessoas “que têm seu ganha-pão diretamente atrelado à companhia” para defender uma solução para a empresa, a partir do acidente em Brumadinho (MG), que passe pela saúde financeira da mineradora.
Numa entrevista coletiva convocada no fim do dia, em cima da hora, que durou cerca de 40 minutos, o executivo afirmou ser “evidente que existe um dever fiduciário em encontrar as melhores soluções que atendam não só aos anseios da sociedade com relação à reparação da tragédia como também preservar a companhia para que ela continue criando riquezas”.
Siani fez questão, no entanto, de demonstrar que o foco, nesse primeiro momento, será atender às vítimas e evitar mais danos ambientais. Ele não quis comentar como a empresa vai compensar a queda da produção em Brumadinho e divulgou que os pagamentos de dividendos e de remuneração variável aos acionistas, além da divulgação do balanço financeiro de 2018, serão suspensos por ora.
“De acordo com a lei das S/A, a companhia tem até 30 de abril para realizar as assembleias e cumprir os atos societários”, afirmou.
Para minimizar as perdas e os prejuízos à população, a Vale vai manter o pagamento da compensação financeira pela exploração de recursos minerais, os royalties, para o município de Brumadinho por tempo indeterminado, para não prejudicar a arrecadação municipal. A cidade recolheu cerca de R$ 140 milhões em 2018, 60% disso são relativos à mineração.
“Esse valor muda com o preço do minério de ferro, mas o que importa é que a Vale vai continuar compensando o município, por conta da falta desses recursos, já que a produção foi paralisada. Vamos fazer a conta na ponta do lápis, o que seria devido vamos pagar”, disse o diretor Financeiro.
Siani anunciou também a doação de R$ 100 mil para cada família das vítimas fatais e desaparecidos, na tentativa de “aliviar os problemas de curto prazo”. O dinheiro não será contabilizado como indenização.
Os danos ambientais devem ser limitados com a instalação de uma espécie de “manta” na altura da cidade de Pará de Minas (MG) que contenha a lama no rio Paraopeba, já contaminado. Com isso, a empresa espera evitar o comprometimento do abastecimento de água na região. Além disso, profissionais de saúde do Hospital Israelita Albert Einstein foram chamados para ajudar às vítimas.
A Vale “vai apresentar um plano ousado” para reestruturar suas barragens, disse Siani. “Até agora, a única informação relevante que liga os dois acidentes (de Mariana e Brumadinho) é que foram duas barragens construídas com método de alteamento a montante, método de construção mais antigo. Essa barragem é de 1976, com esse método que hoje não se usa mais. Temos que contratar especialistas para que nos dê respostas”, disse Siani.
Siani disse ainda ter ficado surpreso com “aparente imprudência” pela construção de um refeitório da empresa e de salas administrativas logo abaixo da barragem. Mas, destacou que o engenheiro responsável pelo monitoramento da segurança estava no refeitório no momento em que a barragem se rompeu e deve estar entre as vítimas.
Questionado sobre falas do vice-presidente, Hamilton Mourão, sobre mudanças na diretoria e controle da Vale, o executivo afirmou que não tem competência para responder esse tipo de questão e que essa não é uma prioridade.