23/03/2019 - 13:49
O The New York Times traz em sua edição eletrônica um artigo que relata como a prisão do ex-presidente Michel Temer ocorre no contexto das investigações da Operação Lava Jato e seus eventuais efeitos para o governo do presidente Jair Bolsonaro.
“A prisão do senhor Temer não é uma surpresa. O político de 78 anos, que por décadas acumulou enorme influência no notável sistema de transações políticas” está sendo acusado por corrupção, destaca a reportagem de Ernesto Londoño e Letícia Casado. O artigo ressalta que ele é o segundo ex-presidente preso no âmbito da Operação Lava Jato e explica que ela ocorreu com a ordem de detenção por medida preventiva expedida por um juiz federal no Rio de Janeiro, pois “autoridades investigam um padrão de propinas e lavagem de dinheiro” que Temer teria supervisionado.
A reportagem aponta que a Lava Jato expôs vários esquemas de corrupção “institucionalizada” no relacionamento de algumas das maiores companhias brasileiras com o setor público, o que atingiu vários políticos, em um contexto de atuação “consideravelmente autônoma” do Poder Judiciário. As investigações levaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à prisão há cerca de um ano, quando liderava pesquisas de opinião para as eleições presidenciais, e cumpre sentença de 12 anos por corrupção e lavagem de dinheiro.
O The New York Times aponta que a Lava Jato continua a causar repercussão no mundo político no Brasil. A reportagem aponta que, de um lado, pode ajudar a imagem da administração do presidente Jair Bolsonaro, pois reforça seu discurso de campanha de combate à corrupção que ajudou a elegê-lo no final de outubro. Por outro lado, pode prejudicar o trâmite no Congresso na proposta da reforma da Previdência Social.
“Vários legisladores importantes, incluindo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, são alvo dos promotores da Lava Jato”, aponta o artigo. “O sogro do senhor Maia, Wellington Moreira Franco, estava entre os suspeitos detidos na quinta-feira junto com o senhor Temer.”
O artigo destaca que ao contrário do ex-presidente Lula, que é muito popular em um segmento da população que defende sua liberdade, inclusive porque acredita que sua prisão tem raízes políticas, no caso de Temer poucas pessoas saíram em sua defesa, pois deixou o cargo com baixo nível de apoio dos eleitores, sendo “a personificação” de alguém que lida com a política nos bastidores “no coração da endêmica cultura de malfeitos no Brasil.”
O jornal americano aponta que algumas vozes em Brasília apontaram excessos da Justiça em ordenar a prisão preventiva de Temer. “Eu penso que é um abuso de autoridade que vemos ocorrer de tempos em tempos”, destacou o senador Tasso Jereissati ao The New York Times. “Ele não era um fugitivo. E pelo o que eu sei, seu endereço era conhecido.”