09/12/2019 - 16:48
A campanha eleitoral no Reino Unido chamou a atenção para os ultrarricos, um mundo à parte, cujos privilégios os opositores trabalhistas não param de atacar, enquanto os conservadores no poder se mostram muito mais conciliadores.
De um regime tributário muito atraente a um grande centro financeiro global, passando por prestigiosas escolas internacionais, vários fatores fazem do Reino Unido um lugar atraente para as maiores fortunas.
– Quem são os ultrarricos? –
O jornal Sunday Times contava em maio 151 pessoas no país com mais de um bilhão de libras. E um recorde: os milhares de indivíduos e famílias mais ricos do país somam um patrimônio de 771,3 bilhões de libras.
As grandes fortunas vêm de todo o mundo, tanto da Ásia e da Rússia, como do próprio Reino Unido.
Dois irmãos de origem indiana, que dirigem o conglomerado Hinduja, lideram o ranking com uma riqueza estimada em 22 bilhões de libras. O empresário russo Alisher Usmanov está na oitava posição, à frente de seu compatriota Roman Abramovich.
Segundo dados do Escritório Nacional de Estatística (ONS) para o período 2014-2016, apenas a cidade de Londres, com seus exclusivos bairros como Mayfair e Belgravia, tem 515.000 habitantes com um patrimônio de mais de um milhão de libras.
– Regime fiscal vantajoso –
O Reino Unido é particularmente atraente graças a uma seção especial de seu regime tributário que permite que alguns habitantes mantenham um domicílio fiscal no exterior e não paguem impostos sobre os rendimentos obtidos fora do país.
Andrew Summers, professor da London School of Economics (LSE), considera essa medida especialmente vantajosa “para estrangeiros que obtêm uma receita significativa de seus investimentos porque é o mais fácil de subtrair do fisco britânico, graças a esse estatuto especial”.
Segundo dados do serviço tributário e aduaneiro britânico, no período 2017-2018 foram beneficiadas 78.300 pessoas, que no conjunto pagaram 2 bilhões de libras a menos ao Tesouro.
Outras vantagens do sistema tributário britânico: os ganhos obtidos do capital podem ter uma tributação baixa, graças às deduções e os impostos sobre a propriedade de imóveis são irrosórios para as moradias mais caras.
– Educação e serviços financeiros –
“Muita gente rica decide vir primeiramente para a educação de seus filhos”, contou à AFP Efun Chin, que chefia o escritório jurídico da Mayfair em Londres.
“É o que mais atrai, já que muitos chefes de Estado no mundo são graduados em universidades britânicas”, opina. O Reino Unido é conhecido por suas escolas particulares com taxas proibitivas nas quais os filhos de famílias ricas recebem uma educação privilegiada.
Além disso, quem investe pelo menos 2 milhões de libras no país pode obter um “visto de ouro” que lhe permite residir por cinco anos.
“Seria um erro pensar que pagar menos impostos é a única coisa” que atrai os ricos, observa Summers.
Ele lista as facilidades para fazer negócios, abertura internacional, o uso extensivo do inglês, um sistema legal respeitado e a estabilidade das instituições políticas.
Londres e sua City, o coração financeiro da cidade, têm uma grande influência internacional e contam com numerosos banqueiros e advogados especializados em assessorar os ultrarricos.
– O Brexit e o trabalhismo –
Apesar de ter aprovado o Brexit por referendo em 2016 e a incerteza que persiste na data de saída da União Europeia, o Reino Unido continua sendo o destino favorito dos mais ricos.
“É claro que eles falam sobre Brexit, mas isso não os detêm”, diz Chin.
Por exemplo, as tensões diplomáticas em 2018 entre o Reino Unido e a Rússia podem ter um efeito mais importante.
Summers observa, no entanto, que o Reino Unido se beneficia até agora de sua “posição de porta de entrada para a EU, mas esse estatuto está em dúvida” com o Brexit.
Existe também a possibilidade de uma vitória do Partido Trabalhista, que prometeu atacar os ricos. “Se o trabalhismo está planejando fechar escolas privadas independentes, acho que isso terá um efeito”, diz Chin.