O dólar avançava frente ao real nesta quarta-feira, cotado próximo a R$ 5,10, com investidores reagindo a dados de emprego acima do esperado nos EUA, que reforçam dúvidas sobre o início do ciclo de flexibilização da taxa de juros nos EUA.

Perto das 11h20, o dólar à vista subia 0,48%, a R$ 5,089 na venda. Na máxima do dia até o momento chegou a R$ 5,09. Veja aqui a cotação.

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Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,16%, a 5,0905 reais.

Na véspera, o dólar à vista fechou o dia cotado a R$ 5,0589 na venda, estável, mas ainda no maior valor de fechamento desde 13 de outubro do ano passado depois de ter acumulado alta de 1,57% nos dois dias anteriores. No acumulado no ano, o dólar registra alta de 4,27% frente ao real.

Cenário externo e doméstico

Foram abertas 184 mil vagas de emprego no setor privado dos Estados Unidos no mês passado, depois de 155 mil em fevereiro em dado revisado, segundo relatório da ADP. Economistas consultados pela Reuters previam criação de 148 mil vagas no mês passado.

Os dados reforçam um continuidade da força do mercado de trabalho e dando mais motivos para o Federal Reserve ser cauteloso na definição do início de seu afrouxamento monetário, reduzindo as apostas sobre chances de corte de juros já na reunião de junho do Fed.

Na agenda interna, a produção industrial caiu 0,3% em fevereiro ante janeiro, marcando o segundo mês seguido no vermelho e acendendo sinal de alerta.

“Talvez o pessoal esteja olhando aqui a parte interna, nossa questão fiscal, mas o que está pesando mesmo é o cenário lá fora: a questão dos juros americanos e, agora, essa dose da questão geopolítica”, disse Hideaki Iha, operador da Fair Corretora, sobre o recente rali do dólar.

Recentemente, operadores têm reduzido as apostas num início em junho do afrouxamento monetário do Fed, bem como as projeções da flexibilização total a ser promovida pelo banco central este ano.

“O que está segurando o Fed de cortar os juros? É inflação, então, com isso, esse petróleo em alta piora o cenário”, avaliou Iha.

Os preços do petróleo ampliavam seus ganhos nesta quarta-feira, com o Brent se aproximando dos 90 dólares por barril, em meio a riscos de oferta decorrentes de ataques ucranianos a refinarias russas e potencial de escalada do conflito no Oriente Médio.

Para além de se beneficiar dos efeitos da alta do petróleo na inflação global –algo que tende a favorecer cenário de um Fed mais rígido–, o dólar tende a ser impulsionado pela tensão geopolítica em si, conforme investidores enchem suas carteiras de ativos seguros para se prevenir de eventuais escaladas em conflitos.

Iha disse à Reuters não esperar novas intervenções do Banco Central no mercado de câmbio, embora siga monitorando os movimentos da autarquia. Na véspera, o BC realizou leilão extra de 20 mil contratos de swap cambial tradicional, cujo efeito é equivalente à venda de dólares no mercado futuro.

O BC disse que a operação tinha como objetivo atender a demanda gerada pelo resgate do título NTN-A3, atrelado ao câmbio, previsto para 15 de abril, mas alguns profissionais ponderaram que a instituição pode ter usado o momento para conter uma alta maior do dólar.

O Banco Central decidiu no mês passado fazer nova redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 10,75% ao ano, mas encurtou sua indicação sobre cortes futuros ao citar uma ampliação de incertezas, afirmando que sua diretoria antevê corte na mesma intensidade apenas na próxima reunião, em maio.

Vai subir mais?

Apesar do movimento de alta do dólar, o cenário esperado pelos analistas do mercado para o câmbio brasileiro permanece estável, segundo o relatório Focus desta semana. A estimativa para o câmbio no fim de 2024 permaneceu em R$ 4,95, ante R$ 4,93 de um mês antes. Para 2025, a mediana continuou em R$ 5,00 pela 12ª semana seguida.

A projeção anual de câmbio publicada no Focus é calculada com base na média para a taxa no mês de dezembro, e não mais no valor projetado para o último dia útil de cada ano, como era até 2020. Com isso, o Banco Central espera trazer maior precisão para as projeções cambiais do mercado financeiro.