27/10/2000 - 8:00
Para os desavisados, o nome Coimex pode não significar muito. Mas é bom prestar atenção. Capixaba de origem, essa companhia tem planos de se transformar, até 2005, em um dos 20 maiores conglomerados do País. Sua posição hoje é confortável: com vendas, em 1999, de R$ 2 bilhões, encontra-se entre as 60 de faturamento mais elevado do mercado nacional. ?Estamos dando uma arrancada?, alerta o fundador Otacílio José Coser. ?Em cinco anos, atingiremos uma receita de US$ 3 bilhões?. Aos 73 anos, ele pilota um ambicioso projeto de reestruturação do grupo. Tradicionalmente conhecida por sua atuação na área de comércio exterior ? principalmente com a importação de veículos ?, a Coimex mudou de rota. Concluiu o processo de profissionalização da gestão, amarrou diversas alianças com grupos nacionais e internacionais, abriu subsidiárias internacionais e comemora o ingresso em novas áreas, como logística, atividades portuárias e concessões rodoviárias.
As medidas foram uma resposta às exigências do mercado. Embalada pela febre dos veículos importados, os negócios da empresa foram de vento em popa até a mudança cambial. No final de 1995, a Coimex chegou a festejar um faturamento de US$ 1,7 bilhão. ?Nossos resultados dependiam muito da importação de carros?, admite o vice-presidente Evandro Luiz Coser, filho de Otacílio. Com a queda nas vendas desses veículos, os resultados despencaram. A saída foi diversificar os negócios ? a começar pela própria área de importação. Hoje, os carros representam 35% das vendas. ?O faturamento nessa área encolheu, mas reduzimos o risco?, conta Evandro. ?Antes possuíamos uma carteira de 20 clientes automotivos e hoje temos 150 nos mais diversos setores, como cosméticos, produtos de telecomunicação e informática, eletrodomésticos e alimentos, entre outros.? Para fortalecer o caixa, a companhia deu ênfase à comercialização de commodities. Até o final de 2000, quer responder por 12,5% das exportações brasileiras de açúcar; 16% do álcool exportado e 14,5% de café. Investiu US$ 5 milhões na estrutura de pessoal e de equipamentos ? 17 filiais em dez Estados brasileiros ? e outros US$ 2 milhões nas subsidiárias na Suíça, Estados Unidos e Inglaterra. Essas atividades de importação e exportação estão sendo reforçadas pelo ingresso da Coimex em logística. De uma associação entre o grupo capixaba e a americana Allied nasceu a Axis Logistics. E mais: cerca de US$ 25 milhões foram aplicados na criação de um terminal alfandegado de 750 mil metros quadrados. ?Atuaremos em toda a cadeia do comércio exterior?, frisa o vice-presidente executivo, Isaac Popoutchi. ?Vamos trabalhar porta a porta.?
Literalmente. Em parceria com o Banco Boavista (Bradesco), está construindo um novo porto em Santos (SP). Instalado numa área de um milhão de metros quadrados, exigirá cerca de US$ 140 milhões. ?Estamos de olho no Mercosul e no Alca?, frisa Popoutchi. No Espírito Santo, mais R$ 30 milhões foram aplicados na construção do Complexo Portuário de Vila Velha, primeiro porto especializado em dar suporte às operações de prospecção petroquímica nas bacias do Espírito Santo. Há ainda estudos para, em consórcio com Queiroz Galvão, Odebrecht e Petrobras, construir mais um porto na região norte do Rio. O empreendimento exigiria investimentos de US$ 300 milhões.
No momento em que a Coimex abre um novo capítulo de sua história, Otacílio anuncia seu afastamento do dia-a-dia das operações da empresa. Junto com ele vão os seis filhos. Passam a fazer parte do Conselho de Administração da CoimexPAR, empresa criada para definir a estratégia do grupo. ?Hoje, todas as nossas empresas estão nas mãos de profissionais?, frisa o empresário. Filho de camponeses de Itaguaçu (ES), migrou aos 14 anos para Vitória, tendo se virado nas mais diversas funções até que um dia deu a sorte de ser convidado pelo dono de uma corretora de café para ser office-boy. O homem morreu e a viúva, atolada em dívidas, perguntou: ?Você aceita ficar com a empresa?? Otacílio disse sim, deu novo rumo aos negócios e começou a ganhar dinheiro. Embora se auto-intitule um conservador, Otacílio tem as características próprias de um empresário ousado, que não tem medo do futuro.