Nosso velho conhecido Gol — carro de maior sucesso da história da Volkswagen do Brasil — voltou a ser competitivo no mercado. Não que ele possa ameaçar os líderes Chevrolet Onix e Hyundai HB20, que estão numa categoria superior, mas parece questão de tempo para ele voltar a atropelar antigos rivais, como o Ford Ka e o Fiat Palio. Para um carro que era dado como morto antes do segundo face-lift da geração atual, os resultados dos últimos meses são animadores.

O Gol ficou em terceiro lugar nas vendas de maio, com 6.914 emplacamentos, perdendo apenas para o Onix (10.896) e para o HB20 (9.249). No ranking geral, o Gol soma 26.547 vendas e ainda está atrás do Ka (28.760) e do Palio (27.628). Como o Onix e o HB20 estão disparados na liderança, a Volkswagen não pode sonhar em fazer do Gol o carro mais vendido do Brasil este ano, mas provavelmente vai comemorar sua ultrapassagem sobre o Ka e o Palio.

Basta analisar os números. Nos últimos dois meses, o Gol vendeu em média 6,7 mil carros e está em alta. Os rivais Ka e Palio também estão em alta, mas suas médias foram de apenas 5,7 mil e 4,8 mil, respectivamente. A média do Onix é de 10,7 mil (em alta) e a do HB20 é de 9,5 mil (em baixa).

Entre os cinco líderes do ranking brasileiro deste ano, o Gol e o Palio tiveram em maio a segunda menor dependência das vendas diretas (para frotistas, taxistas e governos): 2,7 mil, contra 2,1 mil do HB20. Já o Ka teve 2,9 mil vendas diretas e o Onix registrou 3,8 mil.

Mas os números que realmente mostram se o consumidor está feliz com o carro são os da venda no varejo. Nelas, o Gol conseguiu 4,2 mil emplacamentos, contra 3,5 mil do Ka e apenas 2,5 mil do Palio. A dupla Onix-HB20 ficou na casa das 7,1 mil vendas nas concessionárias.

Antes de comentar as eficientes modificações que a Volkswagen fez no Gol, vale a pena analisar mais alguns números, pois eles dão uma visão bem mais abrangente da situação.

Há um ano, em maio de 2015, o Gol ocupou apenas a quinta posição no ranking mensal — e muito mais longe dos líderes. Ele vendeu 8,0 mil unidades (5,5 mil no varejo), contra 8,2 mil do Onix (os mesmos 7,1 mil no varejo), 8,3 mil do Ka (somente 4,8 mil no varejo), 8,8 mil do HB20 (robustos 7,6 mil no varejo) e bons 10,4 mil do Palio (8,5 mil no varejo). Fica claro por esses números que o Ka dependia demais das vendas diretas.

Num passado mais recente, de seis meses atrás, a decadência do Gol e do Palio era notória. O Volkswagen havia caído para 6,4 mil e o Palio havia descido para 9,2 mil. Já o Ka ainda ostentava 8,0 mil, o HB20 havia subido para 10,6 mil e o Onix tinha disparado para 12,0 mil vendas no mês.

No último mês de 2015, brigando pelo título de carro mais vendido, a Chevrolet e a Fiat investiram nas promoções do Onix e do Palio, que conseguiram emplacar 15,1 mil e 12,9 mil unidades, respectivamente. O HB20 ia bem e marcou 11,2 mil licenciamentos. Já o Ka havia caído para 6,7 mil (prova final de sua dependência das vendas diretas) e o Gol tinha os mesmos 6,4 mil. Portanto, se analisarmos esses números, o Gol é o único dos cinco carros mais vendidos do Brasil que conseguiu não apenas manter, mas superar as vendas de dezembro passado.

Para conseguir essa boa reação do Gol, a Volkswagen não precisou reinventar a roda. Bastou tratar o consumidor com respeito, ou seja, dar a ele as coisas básicas que procura. E elas foram basicamente quatro, a saber:

1) aposentou o velho motor 1.0 de quatro cilindros e colocou em seu lugar um atualíssimo propulsor de três cilindros bastante eficiente, pois além de ser mais potente é também mais econômico;

2) aposentou o feioso e ultrapassado painel de longos anos e deu ao Gol um painel de carro superior, tirando do motorista a sensação de que estava sufocado atrás do volante e melhorando sensivelmente o conforto a bordo;

3) dotou o carro de um sistema multimídia completo, de veículo superior mesmo, melhorando a conectividade desde a versão mais barata, e permitindo ao seu comprador a extensão da vida digital que leva em casa, no trabalho e no lazer;

4) fez bons retoques visuais no carro, dando mais liberdade para os designers brasileiros, que estavam engessados pelo insosso desenho da grade frontal imposto pela matriz alemã.

Óbvio que, para manter sua competitividade nos próximos anos, a Volkswagen ainda precisará mexer bastante no Gol. Mas a rápida resposta dos consumidores ao eficiente face-lift do início deste ano mostra que nem sempre as pessoas querem coisas mirabolantes — resolver de fato suas necessidades reais e atender às suas expectativas na hora da compra já é suficiente.