21/06/2017 - 14:28
Quando um novo produto é lançado, ele pode ser analisado sob dois pontos de vista: do consumidor e da empresa. É assim também na indústria automobilística. Sempre que um novo carro chega às concessionárias, ele afeta de alguma forma o mercado –ou porque vai agradar os consumidores e aumentar as vendas do fabricante ou porque vai desagradar e dar prejuízo à montadora. Por isso, hoje quero falar do Fiat Argo, o novo carro que a FCA (Fiat Chrysler Automobiles) começa a produzir em Betim (MG). O que o Argo pode fazer pelo consumidor você já viu na mídia especializada. Mas o que ele pode fazer pela Fiat?
Com a nova estratégia industrial da FCA, o Argo substitui dois carros da linha Fiat, o Punto e o Bravo, além de algumas versões do Palio. Assim, ao invés de dividir a linha de montagem de Betim (MG) entre três modelos para atender a nichos específicos, a FCA dedicará todos os seus esforços de produção e de marketing em apenas um. A Fiat foi a marca que mais perdeu vendas desde que começou a crise econômica no Brasil. Ela ainda mantém a vice-liderança do mercado, atrás da Chevrolet, graças à excelente sacada da Toro, uma picape monobloco com tamanho para brigar com as tradicionais cabines duplas. A dobradinha Toro/Strada dá à Fiat uma liderança folgada entre os comerciais leves.
No ranking de automóveis de passeio, porém, a Fiat perdeu a liderança e depois foi caindo até chegar a um modesto quinto lugar, atrás da Chevrolet, da Volkswagen, da Hyundai e da Ford. Para se ter uma ideia, nos primeiros cinco meses de 2017, a Fiat vendeu 62.783 carros de toda a sua linha de passeio (Mobi, Uno, Palio, Punto, Grand Siena, Weekend, Idea e Doblò). Enquanto isso, o Chevrolet Onix sozinho registrou 68.318 emplacamentos. O Argo está chegando para colocar ordem na casa.O novo Fiat é um hatch compacto, a categoria que tem os dois carros mais vendidos do País nos últimos anos (Onix e Hyundai HB20). Tem 4,00 metros e é menor do que o Punto (4,03 m) e o Bravo (4,37 m), mas um pouco maior do que o Onix (3,93 m) e o HB20 (3,92 m). Por isso, a Fiat deve manter a estratégia de posicioná-lo acima, como um hatch médio, embora ele seja bem menor do que o VW Golf (4,25 m) e o Ford Focus (4,36 m). Questão de marketing, mas para mim um hatch médio deve ter pelo menos 4,20 m.
Mais moderno do que o Punto e o Bravo, ele tem potencial para devolver à Fiat a liderança entre os hatches médios. Afinal, um ano atrás, o Punto era líder dessa categoria com 4.508 vendas, contra 3.478 do Golf e 2.938 do Focus. Portanto, o Fiat Argo deve ter vendas suficientes para se posicionar em primeiro lugar na categoria. Mas, por custar de R$ 46.800 a R$ 70.600, dificilmente ele vai arranhar a liderança da dupla Onix/HB20. Afinal, o Argo 1.0 é apenas R$ 1.150 mais barato que o Onix 1.4 e R$ 5.110 mais caro que o Onix Joy 1.0 (nessa faixa, é uma diferença e tanto).
Em outros tempos, poderíamos prever que a Fiat teria uma estratégia agressiva de vendas. Agora não. A marca italiana está se reposicionando e apostando em carros de valor agregado (e preço) maior. O volume deixou de ser a coisa mais importante desde que foi criada a FCA. Afinal, dentro da empresa, a Fiat divide os esforços com a Jeep, que tem dois carros muito bem aceitos, o Compass e o Renegade. Nessa visão, a perda de participação da Fiat não é grave. Para a FCA, o que interessa é a soma das vendas da Fiat (107.010) com as da Jeep (33.488), Dodge (156), Chrysler (11) e RAM (173), que resulta em 140.838 emplacamentos. Operando no Brasil só com a marca Chevrolet, a GM emplacou 142.208 veículos. Essa é a verdadeira briga que interessa para Betim.