A chegada da gigante americana de e-commerce Amazon à área de eletrônicos no Brasil promete ser um “ponto de virada” na competição do setor. A confirmação de que a companhia iniciará hoje a atuação em novos segmentos foi suficiente para afetar as ações das líderes do comércio eletrônico nacional. Apenas no pregão de ontem na B3, bolsa paulista, o papel do Magazine Luiza teve queda de 7,94%, enquanto o da B2W – dona da Americanas.com – caiu 5,6% (na semana, ambas tiveram baixas da ordem de 20%). Segundo analistas, o mercado financeiro vê a Amazon como uma séria ameaça ao crescimento das rivais nacionais.

A companhia americana, que chegou ao Brasil em 2012, atuava até agora somente em um segmento relativamente pequeno, o de livros, no qual conseguiu se tornar um nome relevante, representando até 10% da receita de grandes editoras, apurou o Estado. Com o início das vendas de eletrônicos, celulares e itens de informática, a Amazon passa a brigar em um terreno muito mais amplo, já que os novos setores de atuação da empresa no País somam 41% da receita do e-commerce nacional.

Segundo Pedro Guasti, presidente da eBit, especializada em e-commerce, o tíquete médio dos eletrônicos é alto, de R$ 700, e bem superior ao preço de um livro.

O presidente da Amazon no Brasil, Alex Szapiro, afirma que pretende aplicar a experiência aquirida no País em market place – revenda de produtos de terceiros – aos eletrônicos. “Nos tornamos um dos principais canais de venda de vários sebos e livrarias no Brasil e agora queremos fazer o mesmo com os vendedores de eletrônicos”, diz.

Para se mostrar competitiva no País, a companhia está reduzindo a comissão cobrada para listar os produtos em seu site – nos EUA, a taxa média é de 15%; por aqui, ficará em 10%. Segundo fontes, a média brasileira gira em torno de 12%.

Uma das “queridinhas” do mercado financeiro – que levantou mais de R$ 1,56 bilhão na Bolsa há menos de um mês -, o Magazine Luiza depositava suas perspectivas de crescimento justamente no marketplace, segmento em que agora terá a Amazon como concorrente. O mesmo caminho é trilhado pela B2W, líder no mercado brasileiro e dona de marcas como Americanas.com, Submarino e ShopTime (leia mais abaixo).

Segundo o analista Guilherme Assis, do banco Brasil Plural, é natural que a concorrência da Amazon faça o mercado revisar para baixo as expectativas de crescimento das marcas nacionais. Embora o consumidor brasileiro seja menos “fiel” a sites de e-commerce do que o americano – onde a Amazon nada de braçada, dominando da venda de alimentos à de eletrônicos -, o analista do Brasil Plural diz que a americana é uma rival capaz de brigar pela liderança, pois tem muita capacidade de investimento.

O professor de marketing Silvio Laban, da escola de negócios Insper, define a Amazon como um “urso de 800 quilos”. “Se ela entrar na sala em que você estiver, vai sentar onde quiser. Então, saia de perto.”

Desafios

Isso não quer dizer, porém, que o mercado brasileiro não tenha desafios específicos. O analista Roberto Indech, da Rico Investimentos, lembra que o País oferece dificuldades do ponto de vista tributário e logístico – e que nem todos os grupos estrangeiros se dão bem por aqui. “É só lembrar o caso da francesa Fnac, que atuava justamente no setor de eletrônicos, e resolveu sair do Brasil”, exemplifica.

A Fnac, na verdade, está pagando cerca de R$ 130 milhões para deixar o País, valor que será investido nas lojas da companhia antes do repasse da operação à Livraria Cultura.

Líder do setor de marketplace no País, o site argentino Mercado Livre diz que é até surpreendente que a Amazon tenha levado tanto tempo para se estabelece no Brasil. “O mercado brasileiro está em franco crescimento”, diz Stelleo Tolda, diretor de operações do Mercado Livre, lembrando que a empresa cresceu 51% no volume de eletrônicos vendidos no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Procuradas, as redes Via Varejo e Magazine Luiza não se pronunciaram. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.