01/02/2021 - 11:55
No calor do agravamento da pandemia no México, supostos médicos e pacientes com covid-19 divulgam nas redes sociais a elaboração de dispositivos artesanais para melhorar a oxigenação dos pacientes, mas especialistas e autoridades alertam contra seu uso devido à sua ineficácia e potencial risco para a saúde.
Esses conteúdos surgiram em janeiro, quando na Cidade do México a ocupação hospitalar superou 90% devido à pandemia. Em meados do mês, algumas pessoas ficavam até cinco horas na fila para adquirir ou encher cilindros de oxigênio, que em alguns casos duram apenas 60 minutos e cuja demanda aumentou 700% desde o final de dezembro.
Com 1,8 milhão de casos e mais de 155.000 mortes, o México está atrás apenas dos Estados Unidos e Brasil em número absoluto de mortos por covid-19.
No entanto, especialistas consultados pela AFP estimam que devido à complexidade com que um concentrador de oxigênio opera, não é possível sua fabricação doméstica e advertem que os mecanismos divulgados nas redes sociais não têm o desempenho exigido por um paciente com baixos níveis de oxigênio no sangue, o que pode gerar uma falsa sensação de segurança.
– Concentrador de oxigênio –
Um concentrador, segundo as especificações técnicas publicadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2016, é projetado para “concentrar o oxigênio a partir do ar ambiente” e fornecê-lo ao paciente com hipoxemia, ou seja, com baixos níveis de oxigênio no sangue.
O dispositivo separa o oxigênio do nitrogênio através de filtros, explicou Nicolás Roux, chefe de Reabilitação e Cuidados Respiratórios do Hospital Italiano de Buenos Aires, Argentina.
A covid-19 é uma das doenças que “afetam a capacidade dos pulmões de realizar uma troca correta de gases, ou seja, eliminar dióxido de carbono e receber oxigênio”, acrescentou Roux.
A razão para dar oxigênio, explica Ramón Aguilar, presidente no México da Sociedade Latino-americana de Cuidados Respiratórios, é ajudar as áreas dos pulmões sem líquido ou material purulento a oxigenar melhor e diminuir ou eliminar a falta de ar e, desse modo, reduzir o trabalho do coração.
– Dispositivos caseiros –
“Pela complexidade de seu funcionamento e por ser um equipamento de uso medicinal, não é possível sua fabricação de modo caseiro”, alerta Roux.
Aguilar explicou que os dispositivos divulgados nas redes sociais fazem o ar circular com uma concentração de oxigênio idêntica à do ambiente, aproximadamente 21%, enquanto um paciente con hipoxemia precisa de níveis de 90%.
Em suas especificações técnicas sobre esses dispositivos, a OMS estabelece uma concentração padrão acima de 82%.
“Uma consequência de usar um compressor de ar é que o paciente continuará oxigenando mal ao não receber uma concentração alta de oxigênio (…) seu coração trabalhará mais e corre o risco de lesionar as partes saudáveis do pulmão, o que pode levar à morte”, alertou Aguilar.