09/12/2021 - 20:10
Milhões de americanos continuam deixando seus empregos a cada mês diante das novas oportunidades geradas pela reativação da economia, após as restrições provocadas pela pandemia, aumentando uma inédita escassez e mão-de-obra.
Os novos pedidos semanais de seguro desemprego nos Estados Unidos caíram na semana passada ao seu menor nível desde setembro de 1969, anunciou nesta quinta-feira (9) o Departamento de Trabalho.
Entre 28 de novembro e 4 de dezembro, 184.000 pessoas se inscreveram para receber esta ajuda, uma queda de 43.000 em relação à semana passada.
+Reativação do mercado de trabalho perde força em novembro nos EUA
A cifra é muito inferior aos 228.000 pedidos que os analistas esperavam.
Mas sobretudo, esta redução dos pedidos mostra que os empregadores hesitam em demitir seus funcionários, em um momento em que as vagas são numerosas, a demanda dos consumidores é elevada e a disponibilidade de mão-de-obra é inferior aos dos meses anteriores à pandemia.
Para atrair trabalhadores, as empresas e as lojas oferecem salários mais altos e benefícios mais atraentes, o que alimenta as pressões inflacionárias.
Em novembro, os salários por hora aumentaram 4,8% com base no mesmo período do ano passado, segundo dados do Departamento do Trabalho da semana passada.
O número de vagas atingiu picos graças à reativação de bares, hotéis e restaurantes, assim como algumas indústrias e serviços diversos.
Em particular, contratar pessoal com baixa qualificação que aceite trabalho presencial virou um quebra-cabeças para muitos empregadores.
“Nunca tivemos uma brecha como esta entre o número de ofertas de emprego e o número de desempregados”, acompanhado por pedidos maciços de demissão, disse Curtis Dubay, economista da Câmara de Comércio americana.
Para Dubay, a pandemia mudou a relação dos trabalhadores com seus empregos.
As empresas que oferecem “cargos tradicionalmente menos agradáveis e menos qualificados têm mais dificuldade em reter os trabalhadores”, destacou. Os empregados “simplesmente não suportam mais” voltar às suas condições de trabalho de antes da pandemia.
Desde abril, milhões de pessoas, em particular com baixo nível de qualificação no setor de serviços, não hesitam em pedir demissão em um contexto de oferta abundante de trabalho.
“Nada a perder”
Cerca de 4,2 milhões de trabalhadores nos Estados Unidos deixaram seus empregos em outubro para aproveitar as oportunidades profissionais criadas pela reativação da economia, um número próximo ao recorde de setembro, segundo um relatório publicado na quarta-feira pelo escritório de estatísticas (BLS).
A cifra foi de 4,4 milhões em setembro e 4,3 milhões em agosto.
No Twitter, a hashtag “#GreatResignation” (“Grande demissão”) se evidencia e os testemunhos se multiplicam: “comecemos por tratar as pessoas com mais humanidade e compaixão”; “Nos demitimos porque não temos nada a perder”.
“O entorno atual dá definitivamente aos empregados mais poder de negociação”, avaliou Erik Lundh, economista do centro de estudos Conference Board.
A tendência a ofertas melhores por parte das empresas para atrair trabalhadores deve continuar no ano que vem. “A maioria das empresas projetam aumentar seus salários em 4%” em 2022, segundo Lundh.
Ninguém podia prever uma mudança tão radical quando, em abril de 2020, a taxa de desemprego era de 14,8%, seu maior nível desde 1948, quando começaram as medições. Em novembro, a taxa de desemprego era de 4,2%.
Lundh relativiza a situação: nos Estados Unidos sempre houve “menos obstáculos para as demissões e para deixar um emprego”, lembrou. Isso explica a grande volatilidade atualmente.