03/01/2022 - 9:54
Extremista e conspiracionista para uns, mártir e patriota para outros: Ashli Babbitt, morta a tiros por um policial durante a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, simboliza a divisão política dos Estados Unidos.
Para alguns especialistas, a trajetória desta veterana das Forças Aéreas, que morreu levando uma bandeira com a imagem de Donald Trump e que antes havia votado em Barack Obama, ilustra a radicalização de muitos simpatizantes do ex-presidente conservador nos últimos anos.
Em 6 de janeiro de 2021, milhares de apoiadores de Trump, então presidente dos Estados Unidos, se reuniram ao redor da Casa Branca para ouvir seu ídolo.
Muitos deles gritavam, assim como ele, que as eleições presidenciais de novembro foram fraudulentas e invadiram o Capitólio, onde os parlamentares certificavam a vitória nas urnas do candidato do Partido Democrata, Joe Biden.
Ashli Babbitt estava na primeira fila da multidão enfurecida que invadiu as portas do hemiciclo onde alguns parlamentares se esconderam, protegidos por poucos policiais.
Nas imagens gravadas em um celular por um dos invasores, a mulher de 35 anos é vista tentando passar, junto a outros, por meio de uma porta de vidro. “Vamos! Vamos!”, diz enquanto os invasores continuam chutando o vidro resistente e ela tenta passar por um dos buracos. É nesse momento que um policial abre fogo e a atinge fatalmente no ombro.
Desde então, os jornais americanos analisam como Ashli Babbitt, que se alistou aos 17 anos nas Forças Aéreas, participou no ataque a este recinto que representa a democracia dos Estados Unidos.
– De MAGA ao QAnon –
Babbitt nasceu em 1985 no berço de uma família modesta em um subúrbio de San Diego, no sul da Califórnia, onde a política não era especialmente importante, de acordo com Roger Witthoeft, um de seus quatros irmãos.
Ashli se mudou para perto de sua cidade natal, não muito longe da fronteira com o México, depois de deixar as Forças Aéreas em 2016. Junto ao seu esposo, liderou uma pequena empresa especializada na manutenção de piscinas, que enfrentava problemas financeiros.
No passado, Ashli votou em Barack Obama, do Partido Democrata, mas suas opiniões políticas acabaram tomando outro rumo.
Essa mudança foi nítida quando pendurou uma faixa na porta de seu negócio durante a pandemia de covid-19: “Área livre de máscaras”.
As medidas contra a propagação do vírus ilustraram a divisão da sociedade americana, com os simpatizantes de Donald Trump se opondo ao uso de máscaras, entre outras medidas consideradas por eles interferência por parte das autoridades em sua vida privada.
Em 2018, em um vídeo postado em suas redes sociais, Ashli Babbitt atacava os sem teto e os imigrantes em situação irregular. Criticava também os políticos do Partido Democrata: “Se recusam a admitir que precisamos de um muro [na fronteira com o México]”.
Para seu irmão Roger, Ashli era “uma californiana normal”. “Os assuntos que a incomodavam eram os mesmos que incomodavam todos nós”, disse à imprensa.
Fanática por Trump, a mulher não se contentava em apenas ver seus comícios e usar o característico boné vermelho com o slogan “Make America Great Again”. No twitter, se definia como “libertária” e divulgava freneticamente as teorias da conspiração do movimento extremista QAnon, que, entre outras coisas, classifica os membros do Partido Democrata como pedófilos e satanistas.
“Nada vai nos parar… eles podem tentar e tentar e tentar, mas a tempestade está aqui e abrirá caminho em Washington em menos de 24 horas… da escuridão para a luz!”, escreveu Babbitt na véspera da invasão ao Capitólio.
Essa imagem é usada com frequência pelos seguidores do QAnon para simbolizar a suposta luta do “bem contra o mal”.
Alguns ultraconservadores tentam definir Babbitt como uma “lutadora pela liberdade” que morreu em combate em 6 de janeiro.
Mas para outros, a imagem da “patriota americana” era mais uma narrativa.
Sua mãe Micki Witthoeft resumiu a divisão que sua filha representa nos Estados Unidos: “Metade do país a ama e metade do país a odeia”.