02/04/2022 - 10:00
“Vim para me despedir”, diz a advogada Sabrina Chiriatto, de 27 anos. “Comprei todos os móveis do meu escritório aqui. Vou sentir muitas saudades da loja”, disse ela, que foi à Etna da Avenida Dr. Chucri Zaidan, em São Paulo, com uma amiga, a arquiteta Mariana Silva, de 25 anos, para dizer adeus à rede de móveis e decoração da família Kaufman (também proprietária da Vivara), que anunciou o fim de suas atividades na semana passada.
Após 17 anos no mercado – e algum tempo procurando um investidor para concorrer de frente com a Tok&Stok -, a companhia jogou a toalha. Restam hoje quatro lojas físicas e uma plataforma de e-commerce. Na capital paulista, as lojas físicas já fecharam, com exceção da unidade da Avenida Dr. Chucri Zaidan, onde a empresa faz uma anunciada queima de estoques, com descontos de até 90%.
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Mas não está sendo fácil aproveitar esses últimos dias da Etna. Sabrina e Mariana, por exemplo, ficaram tanto tempo na fila para entrar na garagem da loja que a bateria do carro arriou. “Tivemos de empurrar o carro para dentro do estacionamento”, disse Sabrina, que cruzou a cidade, da zona leste até o Brooklin, para conferir os descontos. A rotina de lojas cheias se repete desde sábado.
Para as duas amigas, compensou: elas encheram o carrinho com pratos, roupa de cama e uma cadeira de escritório que saiu por R$ 200. O preço original era R$ 499, mas, com os descontos progressivos, o preço foi caindo. A loja está dando 10% de desconto extra para quem gasta a partir de R$ 1 mil. A redução chega a 30% para valores superiores a R$ 5 mil.
TESTE DE PACIÊNCIA
O problema é na hora de pagar: houve quem ficasse mais de duas horas na fila. A loja – que não tem mais os ambientes decorados e com muitas das prateleiras já vazias – vem abrindo praticamente um dia sim e outro não. Na quinta-feira, depois de repor os estoques no dia anterior, abriu às 13h. Antes do meio-dia já tinha gente esperando para entrar. Às 14h, o congestionamento na avenida para entrada no estacionamento já tinha quase 800 metros.
Houve dias em que a loja abriu mas fechou horas depois, para impedir maior lotação. Os funcionários contaram que todo o estoque em exposição foi comprado. “Abrimos às 13h e antes das 15h já fechamos porque não tinha mais mercadoria. Os clientes ficaram dentro da loja, na fila para pagar. Teve gente que ficou mais de três horas nessa espera”, conta um funcionário que não quis se identificar.
“Tenho seis anos de trabalho aqui na Etna. Tem colegas meus com mais de 13 anos. Vamos ficar todos desempregados. É uma pena também, porque gostávamos da loja.”
Uma das clientes “barradas” na Etna é a bancária Tamires Rodrigues, de 23 anos. “Vim no domingo, e a loja já tinha fechado”, conta ela, que aproveitou um dia de férias para fazer compras na loja. “Aí vim na segunda-feira e também não consegui entrar. Tentei de novo ontem, estava fechada para reposição. Hoje (quinta), cheguei cedo e consegui”, conta ela, que se casa em novembro. Comprou um sofá e também cortinas.
VALE A PENA?
A reportagem do Estadão conferiu os descontos na loja. Quem foi atrás de móveis encontrou bons descontos: um sofá de dois lugares estava de R$ 5.199 por R$ 3.999 – e ainda teria 30% adicionais. O preço final seria de R$ 2.799. Uma cadeira estilo Wassily estava de R$ 1.799,99 por R$ 1.439,99. Com o desconto adicional de 10%, o item saía por R$ 1.295,99.
Os maiores descontos, porém, eram em itens pequenos. Um par de raladores de queijo, por exemplo, estava de R$ 69,99 por R$ 34,99 – 50% de desconto. Um saleiro – o item mais barato encontrado – baixou de R$ 7,99 para R$ 1,99 com 75% de desconto.
“Tem ofertas muito boas, principalmente se você aproveitar os progressivos. Mas também tem pegadinha”, conta Andrea Reis, de 45 anos, dona de casa. Ela foi atraída por um cartaz que mostrava uma máquina seladora de embalagens, de R$ 799 por R$ 299. “Pesquisei o preço e vi que na internet custa R$ 270.” Mesmo assim, ela diz que vai se sentir órfã, do mesmo jeito que ficou quando a Leroy Merlin fechou a rede de produtos para casa Zôdio, em 2019. “É mais uma loja que vai ficar na nossa memória, como o Mappin.”
A arquiteta Ursula Lima, de 49 anos, passeava na Etna regularmente, até por conta de sua profissão. “Eu dava uma volta na loja, comprava o que achava legal. E, na saída, ainda comia um cachorro quente que custava R$ 1,50”, lembra. Na casa dela, o sofá, as cortinas, os tapetes de banheiro, uma poltrona, uma mesinha de apoio – tudo é da Etna. “Encontrava muita oferta, principalmente no outlet. Vai ficar na saudade.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.