Na visão do CEO da Moura Dubeux, Diego Villar, a região Nordeste possui ‘demanda para absolutamente tudo’ no mercado imobiliário e as companhias que tem apostado na região têm surfado uma onda de crescimento.

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A incorporadora, a maior da região Nordeste, tem cerca de um terço do market share da região e concentra suas operações em Recife (PE). Na visão do executivo da Moura Dubeux, ainda há espaço para o mercado crescer dado que as companhias do ramo não atendem 100% da demanda vegetativa, quiçá a demanda estimulada.

“O mercado tem demanda por absolutamente tudo. Se você olhar desde o Faixa 1, 2 e 3 [do Minha Casa Minha Vida], a nossa região percentualmente é uma das que mais demanda a habitação. É a segunda região mais populosa do Brasil e o segundo maior mercado imobiliário do Brasil”, explica Diego Villar ao Dinheiro Entrevista.

O executivo conta que ainda existe, inclusive, uma demanda reprimida muito grande no público de alta renda – que tende a trocar de apartamento à medida que as companhias anunciam novas unidades, especialmente com atributos de lazer melhores e outras melhorias voltadas para o conforto.

“Nos últimos seis meses, apenas em Recife a gente vendeu mais de R$ 1 bilhão. É um dado robusto”, conta, citando que esse dado de Volume de Geral de Vendas (VGV) supera inclusive o de várias companhias localizadas na capital paulista, um dos maiores mercados imobiliários do mundo.

Diego Villar relata que em meados de 2004 várias incorporadoras de São Paulo foram ao Nordeste, ficaram por mais de uma década, mas acabaram abandonando o mercado após a crise do governo Dilma, com recessão, crise de confiança e de crédito.

Todavia, com as reformas do governo Temer, o a visão do CEO é que o mercado acabou ‘fomentado’ e aquecido novamente, e companhias locais surfaram uma onda de crescimento.

Sobre projetos recentes, relata que a empresa tem sido ‘corajosa’ de poder ofertar produtos que ‘ninguém tem coragem de fazer’.

Como exemplo, a empresa comprou por mais de R$ 100 milhões um hotel abandonado – o Hotel Bahia Othon Palace – em Salvador, e está retrofitando a unidade.

O projeto se chama Infinity Salvador e inclui o hotel Radisson e residências com serviços (Branded Residences), com previsão de entrega para até o fim do ano ed 2028.

Outro exemplo com a mesma filosofia foi de um moinho localizado na ilha do Recife, na região portuária. Construído entre 1914 e 1919, a unidade tinha silos que serviam para armazenagem de grãos e estava inativa desde 2009. Após adquirida, foi retrofitada pela companhia, que chamou o projeto de Moinho Recife.

Segundo Diego Villar, a empresa vislumbrou essa oportunidade porquê, na média, ‘outros incorporadores não iriam fazer, seja por estrutura de capital, seja de fato por confiança no mercado’.

Moura Dubeux quer ‘parar de crescer’; entenda motivos

Após sustentar uma taxa de crescimento expressiva por anos consecutivos, a Moura Dubeux vislumbrar colocar o pé no freio e ser uma empresa mais qualitativa – o que, segundo a gestão, deve ainda assim manter os resultados rentáveis.

O CEO conta que a companhia tem inclusive transparecido aos investidores os planos de frear o crescimento e focar na rentabilidade dos negócios da empresa, que é o maior player do ramo imobiliário no Nordeste do Brasil

“A gente tem uma preocupação verdadeira em querer ser transparente com o mercado, guiá-los e mostrar que crescemos em uma média de mais de 40% ao ano desde a abertura do capital [ocorrida em 2020]. Hoje eu sinalizo ao mercado que a gente não vai crescer mais significativamente. Pelo contrário, marginalmente. Por que tem cada dia mais me preocupado a nossa capacidade de crescer e continuar produzindo imóveis de qualidade e com boa rentabilidade”, conta Diego Villar.

A visão é de que colocar o pé no freio, no momento atual, é a melhor decisão em termos de ‘ganho de eficiência, de ganho financeiro e melhoria de qualidade para os clientes’.

“Está na hora de a gente parar, se solidificar e buscar todo esse resultado contratado e entregar pro investidor e só depois que estiver confortável com esse outro tamanho provocar um novo [ciclo de crescimento]”.

Salto de 140% nas ações da Moura Dubeux

Na esteira de anos de crescimento desde o IPO, em 2020, a companhia tem surfado uma valorização expressiva das ações em um passado recente.

No acumulado de 2025, os papéis MDNE3 sobem 141%. Desde janeiro de 2023, a alta supera 350%.

A valorização expressiva, em grande medida, está correlacionada com crescimento de dois e até três dígitos nas linhas finais dos balanços mais recentes.

A receita líquida da companhia totalizou R$ 1,6 bilhão em 2024, representando alta de 36% ante o ano anterior, enquanto o lucro saltou 61%, para R$ 251 milhões.

No resultado trimestral mais recente, referente ao segundo trimestre de 2025, a incorporadora registrou R$ 1,2 bilhão em vendas e adesões líquidas, crescimento de 142% em relação ao mesmo período de 2024, e teve um lucro líquido recorde de R$ 120 milhões.

Diversificação de portfólio e foco no Minha Casa Minha Vida

Focando em atender mais faixas de renda a companhia criou novas marcas nos últimos anos, a exemplo da Mood e da Única.

A Mood foi criada em 2023 visando famílias com renda de R$ 12 mil a R$ 15 mil, ao passo que a Única foi criada um ano depois disso, voltada ao programa Minha Casa Minha Vida, focada na Faixa 3 de rendimentos, de famílias com renda mensal de R$ 4,7 mil a R$ 8,6 mil.

Villar relata que as companhias nasceram uma da outra, com a gestão preferindo criar novas marcas em detrimento de aumentar a elasticidade dos portfólios já existentes.

“A Mood foi criada na época que ainda não existia faixa quatro, mas ela navega muito bem no Faixa 4 e se houvesse um Faixa 5, também tendendo a classe média. Por conta do sucesso da Mood, vimos que se enxugasse a área do apartamento e reduzisse alguns atributos de itens de lazer, se encontrava dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, no faixa 3. E aí a gente decide criar a Única para atender esse público”, explica o executivo da Moura Dubeux.